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CAPA

EDITORIAL (pág. 2)
Bráulio Luna Filho - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 3)
Francisco Lotufo Neto


ANUIDADE 2016 (pág. 4)
PF pode obter desconto


INSTITUIÇÕES DE SAÚDE (pág. 5)
Centro de Referência DST-Aids


PESQUISA (Pág 6 e 7)
Violência no Trabalho


DEMOGRAFIA MÉDICA - (Pág 8 e 9)
Médicos no Brasil


TRABALHO DO MÉDICO (Pág. 10)
Exame do Cremesp


PLENÁRIA (Pág 11)
Temática - Cannabis


EU MÉDICO (Pág. 12)
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BIOÉTICA - (pág. 15)
Imigração


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Edição 332 - 12/2015

ENTREVISTA (pág. 3)

Francisco Lotufo Neto


 

Médico está mal preparado para enfrentar
situações de violência

“Como médico, tenho sempre de me colocar
no lugar do outro”

 

Recente pesquisa do Cremesp apontou que 64% dos médicos já sofreram ou conhecem um colega que já passou por algum tipo de violência por parte dos pacientes ou de seus acompanhantes. Esse é apenas um dos reflexos de uma sociedade cada vez mais violenta e intolerante, que não respeita as diferenças individuais, culturais (entre elas, a religiosidade) e sociais de seus integrantes. Para discutir as possíveis razões ou motivações que levam a comportamentos cada vez mais hostis, o Jornal do Cremesp ouviu o médico psiquiatra Francisco Lotufo Neto, professor da FMUSP e membro da Câmara Técnica de Psiquiatria do Conselho. Nesta entrevista, ele faz uma série de reflexões sobre a questão da violência, com base em importantes autores, cujas teorias buscam dar conta da complexidade que envolve o comportamento e a evolução da nossa espécie.

 

As agressões contra médicos refletem o clima de violência na sociedade como um todo. O ser humano está mais violento do que outras épocas?

Sou pessimista em relação ao ser humano, acredito no pecado original. Geneticamente não somos bem programados. Somos agressivos. Há um livro muito interessante, Fé e Evidências Científicas, do professor George Vaillant, da Harvard Medical School, que mostra que há uma evolução no comportamento da espécie. Já foi pior. Se olharmos as histórias das invasões assírias no Oriente Médio, eram de uma crueldade muito parecida com a que vemos hoje. Outros autores, como Jean Piaget e Kohlberg, que também estudaram o desenvolvimento da personalidade e moral, identificam estágios ao longo da vida que podem ou não ser vivenciados, em função das necessidades e do ambiente. A maioria da população não alcança os estágios mais avançados, por isso tem dificuldade de entender a posição do outro. Apesar de pessimista, sou esperançoso. A possibilidade de evolução se dá pela melhoria da sociedade e pelo desenvolvimento da espiritualidade.

 

Pesquisa do Cremesp, rea­lizada pelo Datafolha, apontou que mais da metade dos médicos já sofreu ou soube de caso de agressão a um colega por parte de pacientes ou acompanhantes. Por que o médico passou a personificar os problemas de atendimento à saúde?

Considerando a mesma linha de raciocínio, se a pessoa tem apenas a possibilidade de compreensão mais concreta do mundo, se não teve oportunidade de educação e não vive em um ambiente estimulante, é jovem e não tem maturidade, o médico passa a representar o objeto concreto, que personifica os problemas. Essa pessoa não tem ideia de tudo o que está por detrás. Se acrescentarmos um momento em que a pessoa está sob grande estresse, como nos casos de doenças, ela não tem compreensão exata do que está acontecendo, está mais vulnerável, e pode agir mais agressivamente. Por outro lado, temos uma deficiência na formação médica. Considerando o quanto estamos sendo mal preparados pelas faculdades a lidar com essas situações, somando-se à falta de condições de trabalho e ao ambiente hostil, a combinação é temerária.

 

O Brasil apresenta um quadro de desigualdade social bastante acentuado, no qual os estudantes de Medicina são representantes das esferas mais privilegiadas. De que forma isso afeta a relação médico-paciente? 

Como médico, tenho sempre de me colocar no lugar do outro. Isso é mais fácil para mim que tenho 64 anos de idade, mas é mais difícil para a médica ou o médico jovem que tem 25, porque é nesse período que se adquire a capacidade de empatia, de compaixão e de entender por que o outro está agindo de determinada maneira. Quando o estudante de 1º ano entra na faculdade, ele estuda para tirar nota alta, não para aprender. O que esperamos de uma boa faculdade de Medicina é que, ao longo dos seis anos, outra maneira de pensar, experimentar e sentir prevaleça. Se o ambiente for favorável, a atitude do aluno vai mudando. É essa mudança epistemológica que permite enxergar o outro de uma forma diferente e se relacionar melhor, aprendendo a falar sua linguagem. Os estudos sobre Medicina e cultura mostram que, na verdade, existem a doen­ça e a enfermidade, illness e disease, que não são a mesma coisa. O médico tem de conhecer a doença, respeitar a enfermidade, e saber tratar as duas.

 

O fundamentalismo religioso tem feito muitas vítimas em atentados contra civis inocentes. Esse fanatismo expressa um desvirtuamento das leis sagradas, ou religião e vio­lência sempre estiveram historicamente ligadas?

Fundamentalismo é um movimento que surge no final do século XIX nos Estados Unidos, diante das mudanças científicas, sociais e culturais que estavam acontecendo. Um grupo de teólogos e pastores firmaram os fundamentos da fé, aquilo que é essencial. Um deles é que a Bíblia não contém erros; e tudo o que você precisa saber para viver está lá. Mas o problema não é o fundamentalismo religioso, é o fundamentalista fanático, com transtorno de personalidade que, além de acreditar em um mundo idealizado, pensa que o outro precisa morrer, ser eliminado. Mas existem os contrastes: o médico Albert Schwitzer, Martin Luther King, Malcolm X e Madre Teresa são exemplos edificantes de personalidades religiosas importantes do desenvolvimento da nossa espiritualidade.

 

A guerra e a pobreza têm provocado um intenso movimento migratório de diferentes povos em direção a países da Europa. Embora essas pessoas sejam vítimas, sofrem violência, física e psíquica, ao buscar refúgio em países mais desenvolvidos. O ser humano perdeu a capacidade de ser solidário com o seu semelhante?

Não vou dizer que perdeu a capacidade. Ela existe e é determinada biologicamente. O psicólogo inglês Paul Gilbert desenvolveu uma forma de terapia focada na compaixão, e nos seus livros ele mostra a potencialidade biológica da compaixão. Ela é útil à sobrevivência. Temos essa possibilidade, mas ela é suplantada por outros sistemas responsáveis pela luta e fuga, necessidade de alimentação e prazer. Entretanto, o sistema biológico relacionado ao carinho e ao cuidado é importante nas espécies animais e nos seres humanos, mas precisa ser cultivado.

 

 


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