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ATUALIZAÇÃO 1
José Henrique Vila alerta sobre a combinação álcool e coração


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Cremesp promove debate sobre pedofilia e sigilo médico


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Edição 220 - 12/2005

ATUALIZAÇÃO 1

José Henrique Vila alerta sobre a combinação álcool e coração


Álcool e coração: uma combinação perigosa

Cardiologista não deve sugerir a pacientes abstêmios a ingestão de álcool para proteger o coração, mas sim exercícios físicos, abolição do fumo, redução de peso, dieta e visitas médicas periódicas

José Henrique Andrade Vila*

O alcoolismo, cada vez mais, revela-se um dos grandes problemas de saúde pública, elevando o índice de mortalidade de forma significativa em faixas etárias cada vez mais jovens. Este fato decorre da maior incidência em alcoolistas crônicos de doenças hepáticas, pancreáticas, tumores malignos de cavidade oral, laringe e esôfago, adenocarcinoma de mama em mulheres, problemas gestacionais, violência, acidentes automobilísticos e problemas psiquiátricos graves, podendo levar a suicídio e homicídio.

Do ponto de vista cardiovascular, a ingestão excessiva de álcool leva à miocardiopatia alcoólica, assim como ao aumento significativo dos níveis de pressão arterial, de acidente vascular cerebral, e também de coronariopatia e infarto agudo do miocárdio, provavelmente decorrentes das alterações metabólicas determinadas pelo álcool, como elevação dos níveis de triglicérides, colesterol LDL e maior risco de intolerância à glicose, diabetes mellitus e obesidade.

Em anos recentes, entretanto, um número crescente de evidências na literatura tem apontado que o consumo leve a moderado de álcool – considerando-se como tal a ingestão diária inferior a 40 gramas de etanol para homens – é um fator protetor significativo da ocorrência de coronariopatias obstrutivas, reduzindo esta incidência em 30 a 50% em relação a abstêmios rigorosos, particularmente nos homens acima de 45 anos.

Esse efeito parece dever-se a um pequeno aumento do HDL colesterol, o que ocorreria, em tese, com qualquer tipo de bebida, porém também a um efeito antioxidante e antiinflamatório decorrente dos flavonóides que existem em vinhos tintos. Quando o consumo de álcool se eleva – especialmente acima de 60 gramas de etanol ao dia –, a mortalidade global e mesmo cardiovascular cresce de forma progressiva, estabelecendo uma verdadeira curva em J, perdendo-se o efeito protetor antes mencionado e surgindo riscos elevados das complicações decorrentes do alcoolismo apontadas no início do artigo.

O efeito protetor explicaria o famoso “paradoxo francês”, segundo o qual, apesar do alto consumo de gordura animal, a incidência de coronariopatia na França alinha-se à do Japão, país sabidamente pobre em uso de gorduras animais e com população acostumada à ingestão de peixes. Este fato seria decorrente do maior consumo de álcool, em particular do vinho tinto entre os franceses. Nas localidades junto ao Mediterrâneo, a incidência de coronariopatia é baixa. Porém, neste caso, aliada ao consumo de vinho temos uma dieta mais rica em pescados, cereais, legumes, verduras e azeite de qualidade. Alguns estudos em relação à baixa incidência de coronariopatia na França salientam a importância de a maior ingestão calórica ocorrer até o almoço, ao contrário dos Estados Unidos e outros países, nos quais predomina o fast food durante o dia, com uma refeição mais substancial à noite, o que provoca aumento dos níveis noturnos de glicemia e hiperinsulinismo, reconhecidos fatores de risco de doença coronariana.

Também já foi sugerido que o efeito protetor em bebedores leves e moderados seria decorrência, principalmente, do maior grau de socialização dessas pessoas em relação aos abstêmios – e não ao álcool em si. 

Trabalhos experimentais em ratos, submetidos à dieta com álcool em níveis moderados, têm demonstrado queda aguda da função cardíaca por defeitos na fosforilação oxidativa e um efeito crônico de redução de síntese protéica em nível de sarcolema e mitocôndria que são reversíveis com a suspensão do tóxico. Estudos clínicos em pacientes demonstram que mesmo ingestões leves a moderadas de álcool podem determinar elevação significativa da pressão arterial e queda da contratilidade miocárdica que é particularmente deletéria frente ao aumento de pós-carga mencionado, podendo levar a verdadeiro quadro de miocardiopatia dilatada que é rotulado pelo cardiologista como idiopática, pois o consumo de álcool não parece excessivo.

Temos encontrado inúmeros casos que nos foram enviados para transplante cardíaco, em que uma anamnese mais detalhada revelou o real nível de ingestão alcoólica e a sua suspensão absoluta promoveu rápida melhora da função ventricular  juntamente com a medicação apropriada, em particular, os beta bloqueadores. É bastante conhecida dos cardiologistas a síndrome cardíaca de fim de semana, em que arritmias, descompensação cardíaca e, mesmo morte súbita, ocorrem após ingestão muito elevada de etanol em curto período, levando a quadro agudo e grave, potencialmente reversível, porém sempre ameaçador.

Apesar de termos que aceitar as evidências contidas em mais de cem artigos observacionais que indicam redução da incidência de doença coronariana com o uso regular de álcool, concordamos inteiramente com as diretrizes americanas e canadenses de cardiologia, que recomendam ao médico não sugerir ao paciente que comece a beber para proteger o seu coração. Nenhum dos trabalhos que mostraram benefícios foi controlado e randomizado. Todos se basearam na estimativa de ingestão por dados do próprio paciente, o que é bastante inconsistente em nosso meio. Muitos estudos populacionais maiores não evidenciaram benefícios em doses leves e moderadas de ingestão e todos foram unânimes em mostrar malefícios em doses maiores excedendo a 40 gramos diários de ingestão de etanol, exigindo muita prudência face à estreita margem de segurança.

Agravando este quadro, sabemos que o alcoolismo tem um indiscutível componente genético e, ao estimularmos um pequeno consumo, este poderá transformar-se – no grupo de pessoas susceptíveis – em um vício incontrolável com profundas conseqüências pessoais e familiares.

Em conclusão, a prudência recomenda que o cardiologista não proponha ao seu paciente abstêmio a ingestão de álcool, em qualquer quantidade, mas sim, de exercícios físicos, comprovadamente eficazes em elevar o HDL, bem como outras medidas como abolição do fumo, redução de peso, dieta prudente e visitas médicas periódicas para orientação e exames. Porém, frente a pacientes acima dos 45 anos, disciplinados e que referem ingestão aceitável de bebidas alcoólicas, entendendo-se como tal até 330ml de cerveja ao dia, de preferência escura, ou até 175ml de vinho, de preferência tinto, ou até 50ml de bebida destilada, o médico poderá ser tolerante, lembrando que este nível de consumo de álcool é máximo no caso das mulheres, podendo ser um pouco maior em homens com coronariopatia estável, desde que a pressão arterial seja normal, ressaltando-se que qualquer aumento adicional pode elevar a mortalidade global.
 
Bibliografia disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi escolher a base Medline/termos usados para recuperação: Alcohol  and Heart



* Vila é médico intensivista e cardiologista do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo; coordenador da Câmara Técnica de Cardiologia e conselheiro do Cremesp


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