Plenária temática reuniu acadêmicos, psiquiatras e diretores do Cremesp para um debate amplo sobre a violência nas universidades
A violência entre estudantes de Medicina, não só em trotes aos calouros, mas também em competições esportivas, festas e mesmo dentro do ambiente de ensino, foi debatida por médicos, estudantes e conselheiros durante plenária temática no dia 26 de setembro, no auditório do Cremesp. Mauro Aranha, vice-presidente do Cremesp, destacou que a violência no Brasil cresce entre os jovens de 18 a 25 anos e o mesmo acontece com os estudantes de Medicina. “Observamos que tem imperado a barbárie”, disse ele, o que motivou o Cremesp a analisar o assunto em profundidade.
O evento Violência entre estudantes de Medicina – do trote a outras violências, que teve a coordenação da psiquiatra e conselheira do Cremesp, Katia Burle dos Santos Guimarães, trouxe a visão do psiquiatra Ibiracy de Barros Camargo, professor de Psiquiatria da Unaerp e do Centro Universitário Mauá, sobre o compromisso ético, estabelecido pelo Código de Ética do Estudante de Medicina. “É preciso bem mais que o simples cumprimento das regras. Necessitamos de consciência ética sobre o lugar e o papel social do futuro médico na sociedade. Se o início da vida acadêmica for marcada por selvageria, humilhação e traumas, como será a vida profissional do médico?”, questionou.
Em sua palestra Violência e Trote: altruísmo X projeção da destrutividade, Luiz Roberto Millan, membro da Câmara Técnica de Psiquiatria do Cremesp, abordou as pulsões vocacionais que levam o estudante a escolher a carreira de médico e também o papel das escolas. Para ele, a instituição deve oferecer um ambiente acolhedor e humano, ter profissionais como fonte de identificação para que o estudante desenvolva seu potencial, criar serviços de assistência psicológica aos alunos e médicos residentes e gerar grupos de tutoria para auxiliar os alunos em sua trajetória acadêmica.
Mencionando a violência nos jogos Intermed, Pré-Intermed e Jumed, Renato Del Sant, diretor do hospital-dia do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP, afirmou que, nessas ocasiões, “é comum os estudantes perderem o senso de responsabilidade e cometer atos que se envergonhem depois”. Mas que esse seria um comportamento típico de uma massa desorganizada, o que não é o caso.
Os estudantes Renato Pignatari, da FMUSP, e Gabriel Guimarães Di Stasi, da Faculdade de Medicina de Marília (Famema), relataram que os centros acadêmicos e atléticas estão preocupados com a violência e abuso de álcool e drogas em festas, assim como em racismo, homofobismo e assédio sexual. Na USP, foi criada uma comissão específica para monitorar esses temas e criar um mecanismo de acolhimento dos alunos que passaram por esses episódios. O serviço já existe na Famema. Stasi relatou que, apesar das recomendações e das câmaras de segurança instaladas na universidade, o limite entre trote e integração depende de cada estudante e envolve a índole dele, o que torna impossível um controle por parte das organizações estudantis.
Ouça a íntegra do evento no áudio disponível para download
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Número de inscritos para acompanhar a plenária superou expectativas, demonstrando a importância do tema
Fotos: Osmar Bustos
Tags: trotes, violência, plenária, psiquiatria, acadêmico, estudante.
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