A medicina paliativa é uma área de atuação em plena expansão no país nas últimas décadas, mas que adquiriu abrangência e visibilidade maiores com o surgimento da pandemia de covid-19 e suas consequências. Para abordar o tema, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) realizou, no dia 20 de outubro, a live Cuidados Paliativos, Qualidade e Segurança do Paciente, com a participação de Douglas Crispim, geriatra e presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), e mediação de Maria Camila Lunardi, intensivista e diretora 2ª Secretária do Cremesp.
Na ocasião, Crispim simplificou a definição de paliativistas como profissionais da saúde “que cuidam e ajudam as pessoas que vivem com doenças graves, ameaçadoras da vida e prolongadas, sendo que esse cuidado não é apenas direcionado ao sofrimento físico, mas também ao psicológico, espiritual e familiar”.
CP e outras especialidades
Na prática, uma das intenções da live foi identificar de que maneira outras especialidades podem se valer do apoio dos profissionais dedicados ao atendimento a pacientes sem opções curativas, em especial, em uma fase crítica como em um cenário de covid-19. “A Pandemia veio para todo mundo, inclusive àqueles que já conviviam com doenças graves". Quanto maior a intensidade de cuidado, mais especializado e perito o profissional de cuidados paliativos deve ser.
A interação com outras áreas, disse Crispim, ocorre progressivamente, ao longo do processo de doença: citando Cicely Saunders, reconhecida como a fundadora do movimento hospice moderno, explica que disponibilizar cuidados paliativos não é uma alternativa ou ruptura, “é algo sempre complementar a outro tipo de atendimento”.
Durante os primeiros meses de introdução de tratamento modificador ou proposta curativa por parte do generalista ou especialista, os resultados serão muito bons. Porém, “algum tipo de sofrimento vai aparecer cedo ou tarde, pois já não vai ser totalmente coberto, mesmo contando com o melhor tratamento, vindo do profissional e local de maior excelência”. É neste momento que os cuidados paliativos se tornam uma indicação adequada, sendo ofertado em graus, de acordo com o tipo de sofrimento do paciente.
Outro assunto abordado na discussão e reiterado pela plateia on line foi a existência – ou mesmo, o benefício – de um eventual termo de consentimento informado a ser assinado pelo paciente ou responsável legal, no decorrer do tratamento paliativo. Na visão de Crispim, trata-se de um conjunto tão amplo de cuidados, que pode inclusive indicar UTI, que não caberia em um único documento. “Não existe termo de consentimento para receber um bom cuidado”.
Segundo ele, há um desconforto quando se busca a mudança de abordagens usadas há muito tempo. “Em vez de querer achar uma formula mágica, um termo, um protocolo, uma linguagem técnica, de falar mais do que ouvir, de ser mais otimista do que a realidade, de tratar as pessoas de forma impessoal, vale a pena desconstruir todo este padrão para o bem do paciente”. Por fim, reitera que os procedimentos invasivos constituem-se em uma “benção” da medicina, mas “é preciso trabalhar, estudar prognóstico, risco-benefício e decisões compartilhadas”.
Confira a íntegra da live em https://www.youtube.com/watch?v=iNgKR4rQ-UI
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