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CAPA

EDITORIAL
Análise sobre Urgência e Emergência e entrevista com Tom Zé: destaques desta edição


ENTREVISTA
Tom Zé: "Persistindo os médicos, os sintomas deverão ser consultados"


CRÔNICA
Entre a saudade e a nostalgia - Tebni P. Saavedra


BIOÉTICA
Debate discute pesquisas com seres humanos


ENSINO
Renato Sabbatini aborda a reciclagem profissional de qualidade


SINTONIA
"A Teoria do Caos e a Medicina", por Moacir Fernandes de Godoy


ESPECIAL
Urgência e Emergência: situação crítica no sistema público de saúde


EM FOCO
Memórias de cárceres: Luiz Guedes e Eleonora Menicucci


COM A PALAVRA
Artigo do cardiologista Luiz Carlos Pires Gabriel


LIVRO DE CABECEIRA
Destaques: A Conquista da Felicidade e O Físico


CULTURA
Michelangelo - Lição de Anatomia


HISTÓRIA DA MEDICINA
A Medicina islâmica em Córdoba e Toledo


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Edição 29 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2004

CRÔNICA

Entre a saudade e a nostalgia - Tebni P. Saavedra

Entre a saudade e a nostalgia

Tebni Pino Saavedra*

O relógio marcava algo em torno das oito horas da noite do início do mês de junho de 1979 quando o ônibus Pluma parava finalmente seu motor, depois de mais de 50 horas de uma longa viagem iniciada antes das cordilheiras dos Andes. Trazia em sua pesada carga de passageiros sonhos, esperanças e mais de um pesadelo vencido logo que cruzada a Polícia Internacional do Chile.

Eram os párias do sistema imposto a sangue e fogo pelo general Pinochet que, em sua grande maioria, buscavam na quase extinta ditadura brasileira um espaço para desenvolver aptidões, olhar o futuro sem a incerteza de uma vida de patrulhas militares, percorrendo sem cansaço as ruas da capital do país.
Brasil..., finalmente Brasil. A rodoviária velha de São Paulo e suas cores, misto de arco-íris ou desenho infantil, acolhia os novos “bandeirantes”. Sem nenhuma documentação que permitisse sequer bicos ou trabalhos esporádicos, ameaçava-nos a fome, o desemprego, a incerteza do nosso pão de cada dia.

A liberdade, porém, se apresentava como o bem mais prezado pelos “turistas por três meses” que alguns luziam, orgulhosos, aos amigos ou parentes que, numa tensa espera, aguardavam o momento propício para dizer uma, duas, todas as verdades do novo “Eldorado” tropical.

Não faltariam, ao pouco tempo da chegada, colegas chilenos que ofereciam carteiras de trabalho “novinhas em folha”, esperando ansiosas a foto 3x4 que permitiria, quando muito, um cargo de faxineiro nos inúmeros prédios da capital paulista. O destino, ou a vida, se encarregaria de definir os caminhos que cada um dos passageiros daquele ônibus teria que percorrer nos incertos dias, meses, anos de estada no “país do carnaval”, como dizia o grande Jorge Amado.

A fogueteira Rosenery
Diferenças com o país da saudade? Todas. Acolheu-nos um povo alegre, solidário, às vezes algo orgulhoso, sobretudo quando de futebol se tratava, fato que Roberto Rojas, o goleiro do São Paulo e da seleção chilena, se encarregou de cimentar e mandou, além do Chile às margens da Fifa, a fogueteira Rosenery às páginas principais da Playboy.

Fácil? Difícil? Sabemos lá se a ousadia nos permite falar por todos. O que ninguém poderia negar, contudo, é que o Brasil ofereceu oportunidades para todos os que quiseram tomá-las. Trabalho, educação e saúde, bens que o Chile de Pinochet praticamente tinha vedado aos seus nacionais.

O retorno
A mesma vida ou o mesmo destino que marca a passagem dos homens pela Terra se encarregaria um dia de trazer de volta um punhado de chilenos, quando a retomada democrática exigia o aporte dos conterrâneos aos esforços da reconstrução das instituições do Estado.

Saudades do Brasil? Todas. Teriam que se passar muitos anos para de novo sentir-se naturalmente chileno. Porém, ainda que pareça besteira, o diálogo em português que mais de uma vez se ouve nas ruas de Santiago, faz o “retornado” voltar a cabeça, trocar um par de frases, em resumo, devolver toda a solidariedade recebida em anos de permanência no Brasil.

Olhos voltados com saudade ao passado recente, páginas de jornais visitados dia-a-dia graças à Internet, passageiros freqüentes de aviões ou ônibus que, sem dúvida nos devolvem um pouco da alma brasileira adquirida porque é boa, é pura, é linda, é verdadeira.

O reencontro com a “terrinha”
O cheiro do comercial no boteco do português enche as narinas e faz retroceder 10 anos no pensamento. Maíra e Víctor, meus filhos brasileiros, ainda não entendiam porque deveriam almoçar num boteco qualquer em vez de aceitar o arroz com feijão preparado no dia anterior pela mãe. Faltava-me o cheiro da coxinha recém-frita, o doce sabor do guaraná Caçula, observar as gotas de cachaça jogadas ao chão por um operário da construção, “para o santo”.

Dez anos depois da despedida da família, o ritual do comercial tinha se transformado numa verdadeira obrigação para nós que, com freqüência, voltamos mais que a São Paulo, ao bairro de Pinheiros. Percorrer suas ruas de paralelepípedos, rever amigos e companheiros de faculdade era e é parte da necessidade que um homem tem de sentir do ar que enche os pulmões com a frescura das samambaias.
Também é constatar que a expressão “brachilenos” que um dia ficou presa à nossa epiderme se faz cada dia mais presente. Senão, que o digam os italianos quando, misturados à colônia brasileira residente no Chile, resgatamos do baú a “verde-amarela” que acompanha nossas vidas para celebrar mais uma Copa do Mundo, embora o sotaque nos delate e nossos passos de improvisado samba nos acusem.

* Saavedra é jornalista formado no Brasil, diretor do Colégio Nacional de Jornalistas do Chile 


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