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CAPA

EDITORIAL
Nesta edição, uma reflexão sobre o superaquecimento global e seu impacto na saúde


ENTREVISTA
Acompanhe esta conversa com o escritor-médico Moacyr Scliar, membro da Academia Brasileira de Letras.


CRÔNICA
Tutty Vasques, cronista convidado, nos dá o "prazer" de um texto divertidíssimo...


MEIO AMBIENTE
Polêmico, mas realista, Al Gore alerta para catástrofe ambiental, sem volta


CONJUNTURA
A exploração sexual infantil: os números são assustadores e as seqüelas, piores


DEBATE
A reforma na assistência à saúde mental na mira de 3 especialistas no tema


HISTÓRIA DA MEDICINA
Anorexia: um mergulho na história da humanidade mostra que ela vem de longa data...


HOMENAGEM
Darcy Villela Itiberê: toda uma vida dedicada ao exercício, pleno e ético, da Medicina


EM FOCO
Homens públicos tão diferentes, na realidade tão semelhantes: são médicos!


RAIO X
Se decidir pela Medicina já é difícil, imagine desistir da profissão, depois de graduado...


ACONTECE
Acompanhe uma visita virtual à 27ª Bienal de Artes, sob o tema Como Viver Junto


SINTONIA
SES começou projeto de catalogação do patrimônio cultural de instituições de saúde do Estado


COM A PALAVRA
Confira texto inteligente e bem humorado do cardiologista Rodrigo Penha de Almeida


TURISMO
Impossível resistir a estas imagens... Veja nossas dicas para conhecer, de perto, esse paraíso


LIVRO DE CABECEIRA
Intercorrências da Morte é o destaque desta edição. De Saramago. É preciso mais?!?


POESIA
Encerrando com chave de ouro esta edição, a poesia de Roland Barthes


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Edição 37 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2006

COM A PALAVRA

Confira texto inteligente e bem humorado do cardiologista Rodrigo Penha de Almeida

Casamento na UTI

Rodrigo Penha de Almeida*  


Era uma tarde tranqüila, um daqueles raros momentos em que a frágil quietude da UTI, com pacientes gravemente estáveis, parecia antever uma situação caótica como uma parada cardíaca, uma intubação ou qualquer outro procedimento de urgência.

A equipe mantinha a rotina de trabalho, seriedade mesclada por momentos de descontração, carinho e cuidado dispensado aos 18 leitos da unidade. Aquela tarde revelaria uma cena que ficaria para sempre na memória. E não seria nenhum diagnóstico revelador, uma conduta heróica ou tratamento inovador.  

O leito 4056 era ocupado por dona Terezinha, doente cardiopulmonar grave que há poucos dias respirava por uma máquina e ainda mantinha aquela aparência de quem viu a morte de perto. Muito fraca, dependia de um balão de oxigênio e de constantes exercícios de fisioterapia respiratória. No dia anterior, disse que iria se casar. Como já era casada há 40 anos com seu Damásio, pensamos tratar-se de um quadro de delírio. 

Pouco antes do horário de visitas à UTI, chega o capelão do hospital com trajes diferentes do habitual. Sobre o jaleco branco e surrado, usava uma vistosa estola sacerdotal, tão comprida que quase tocava o chão.  Ao seu lado vinha seu Damásio, barba bem feita, roupas simples mas arrumadas, camisa para dentro da calça e sapato brilhante. Tinha um brilho no olhar como se vestisse linho ou pura seda.  

Dona Terezinha usava um pijama novo trazido pelas auxiliares de enfermagem. Escolheram peças em que o símbolo do hospital ainda não havia sido apagado pelo vapor das caldeiras. Os cabelos bem penteados estavam emoldurados pelo catéter verde transparente de oxigênio. No quarto arrumado para a ocasião não havia comadres nos cantos, mas um aparelho de ventilação mecânica preparado para o uso. A noiva poderia precisar dele a qualquer momento. 

Tudo pronto, cadeiras emparelhadas, mãos dadas, uma flor improvisada pela auxiliar de leito e madrinha, alianças emprestadas pelo fisioterapeuta e padrinho. Naquele sagrado momento, nós da equipe representávamos os filhos, netos, vizinhos, conhecidos amigos e irmãos. Parecia que estávamos em uma capela decorada para uma festa. Estáticos ouvíamos o padre, aturdidos pela singeleza do momento. As lágrimas derramadas pela quase totalidade da audiência revelava a emoção presente. Nunca as palavras “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença” soaram tão sinceras; nunca a frase “até que a morte nos separe” provocou tanta comoção. A voz fraca e cansada era interrompida pelo choro, as lágrimas eram recolhidas pelo largo sorriso daquele rosto enrugado. Nas mãos trêmulas e roxas pelas marcas de sete dias de internação em UTI, a aliança insistia em não se encaixar nos dedos inchados.  

O técnico do Raio X passou por nós sem muito interesse. Deixou de fazer a radiografia naquele quarto e foi para o seguinte. A benção foi impetrada, rezamos juntos e os noivos se beijaram. Poses para a foto. Como a noiva estava muito fraca, o noivo jogou o buquê, logo apanhado pela madrinha. Aplaudimos com discrição e cumprimentamos os nubentes. 

Voltamos para a rotina dos prontuários, exames e prescrições com uma sensação diferente e o coração aquecido. 


* Rodrigo é cardiologista e hemodinamicista, coordenador da Unidade Coronariana do Hospital Madrecor de Uberlândia



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