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CAPA

PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Luiz Alberto Bacheschi*


ENTREVISTA (pág. 4)
Jairo Bouer


AMBIENTE (pág. 9)
As comunidades quilombolas remanescentes no Estado de São Paulo


CRÔNICA (pág. 12)
Pasquale Cipro Neto*


CONJUNTURA (pág. 14)
Conselheiros analisam tratamento de saúde oferecido a estrangeiros


SINTONIA (pág. 19)
Renato Azevedo Júnior*


DEBATE (pág. 22)
Pesquisadores discutem estágio atual das pesquisas com células-tronco


GIRAMUNDO (pág. 28/29)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e da atualidade


PONTO COM (pág. 30)
Acompanhe as novidades que agitam o mundo digital


EM FOCO (pág. 32)
Charges e desenhos sobre o ensino e a prática médica


CULTURA (pág. 34)
Marcelo Secaf *, presidente do conselho da Associação Pinacoteca


TURISMO (pág. 38)
Parque Estadual do Jalapão, em Tocantins


HOBBY (pág. 44)
Caratê: melhor concentração e controle das emoções


LIVRO DE CABECEIRA (pág. 47)
Obra da psicóloga e psicoterapeuta francesa Marie de Hennezel


POESIA( pág. 48)
Soneto de Machado de Assis


GALERIA DE FOTOS


Edição 54 - Janeiro/Fevereiro/Março de 2011

ENTREVISTA (pág. 4)

Jairo Bouer

“Para falar com o jovem, a internet é a ferramenta’”

Médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com residência em psiquiatria no Hospital das Clínicas, Jairo Bouer criou programas como o Ao Ponto – produzido pela TV Cultura e também apresentado no Canal Futura – e o Qual É na rádio da Rede Atlântica, do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, entre outros. Neles costuma falar sobre saúde para jovens e adolescentes. Há 12 anos é colunista do jornal Folha de S. Paulo e atualmente responde a perguntas de internautas no site Uol. É, ainda, autor de vários livros, entre eles O Guia dos Curiosos sobre Sexo, em parceria com o jornalista Marcelo  Duarte, pela Cia. das Letras; e Tipo Assim Adolescente, com Soninha Francine, pela Editora Papirus. Estava em Florianópolis quando concedeu esta entrevista, por telefone, à Ser Médico, na qual falou sobre a sua curiosa trajetória na medicina e na área de comunicação, entre outros assuntos. A pauta de perguntas incluiu três feitas pelo psiquiatra e primeiro-secretário do Cremesp, Mauro Aranha, autoria que aparece identificada durante a entrevista que apresentamos a seguir:


Ser Médico: Como foi o processo que o levou a reunir o exercício da medicina, a atuação como colunista de jornal, escritor e apresentador de programa de TV para adolescentes?
Jairo Bouer:
Paralelo à medicina, sempre tive interesse na área de comunicação, embora não visualizasse isso como trabalho. Eu acompanhava as notícias de saúde durante a faculdade e residência médica e sabia que alguns médicos se ocupavam disso no jornal Folha de São Paulo, na revista Época etc. Houve um momento em que um colega do Hospital das Clínicas deixava essa ocupação na Folha para fazer um doutorado nos Estados Unidos e indicou alguns nomes ao jornal, entre eles o de uma colega, que me convidou para fazer o trabalho junto com ela. Cheguei na Folha em 1993, por intermédio dessa colega.

SM: Já havia concluído o curso de medicina nessa época?
JB:
Eu estava no último ano de residência em psiquiatria e fazia alguns trabalhos no Prosex (Projeto Sexualidade) do Hospital das Clínicas. Essa colega também fez psiquiatria e começamos a desenvolver juntos as pautas do jornal. Ela não gostou do tipo de atribuição e decidiu sair logo depois, quando assumi a página. Escrevi uma página semanal sobre saúde para a Folha durante sete anos, entre 1993 e 2000, que saía às segundas-feiras. Depois, conseguimos publicar aos domingos. Essa coluna existe até hoje e foi o grande embrião dos meus trabalhos seguintes.

SM: E a atuação como escritor e apresentador de TV?
JB:
Paralelo ao trabalho na Folha, fui chamado para fazer, junto com uma psicóloga, uma coluninha, no caderno Folhateen, de perguntas e respostas sobre sexualidade. No ano seguinte fui convidado a fazer uma coluna eletrônica na TV Cultura e, depois, um programa na MTV, dirigido a jovens e focado em sexualidade, no qual fiquei por cerca de cinco anos. A partir daí, passei a ser chamado para fazer trabalhos em outros veículos e em parcerias com algumas pessoas. Hoje faço muita coisa na internet, algumas colunas para revistas e sou procurado para escrever livros. Ao longo dos anos publiquei entre 10 e 12 livros, inclusive audiolivros, focados no comportamento dos jovens e na sexualidade.

SM: Depois da medicina você foi estudar Biologia?
JB: Não moro mais em São Paulo. Atualmente estou em Florianópolis e aqui faço algumas disciplinas na Universidade Federal de Santa Catarina. É como se fosse uma graduação em Biologia, uma volta às questões básicas e que têm a ver com o comportamento animal, ecologia comportamental e sobre como as pessoas e os animais se relacionam com o meio ambiente.

SM: Por que o interesse na Biologia?
JB: Porque podemos observar melhor outros aspectos em relação ao comportamento. O que é herdado? O que é evolutivo? O que está presente em uma série de espécies? Enfim, é um olhar diferente sobre nós e o mundo. É também uma ampliação diária do meu trabalho que propicia falar e escrever com maior propriedade sobre outras questões, além da saúde.

SM: Como concilia suas atividades? Atende pacientes em consultório ou hospital?
JB:
Fiz um pouco de tudo, hospital, pronto-socorro, posto de saúde, clínica de internação etc. Hoje mantenho consultório em São Paulo, para pacientes mais antigos, e em Santa Catarina. Mantenho registro nos CRMs dos dois Estados. Mas atendo pouco. O foco de meu trabalho foi mudando e hoje está mais centrado na comunicação, em pensar fórmulas e conteúdos para transmitir informações de saúde à população, principalmente aos jovens.

SM: Tornou-se uma espécie de consultor midiático de saúde para jovens?
JB:
Sim. Acredito que para esse público a proposta é falar de saúde de uma maneira geral e expandir as questões relacionadas à sexualidade. É um desafio. Para essa faixa etária, saúde não é uma preocupação. Em geral, eles têm saúde. Ter algum problema é exceção à regra nessa idade, mas dá para trabalhar a prevenção e os cuidados como uma questão de longo prazo.

SM: Qual é a sua abordagem para falar de saúde com adolescentes? Trabalha algum tipo de linguagem especial? Como se conecta à cabeça de um adolescente?
JB:
Não tenho receita específica, a ideia é tentar falar com eles criando uma interlocução. O desafio é falar de maneira que, de um lado, não fique muito professoral ou paternal e, de outro, não seja na linguagem do adolescente porque soa falso. Eles têm de entender que estamos ali para criar a possibilidade de diálogo, em que a função básica é passar a informação para que tomem decisões corretas. É importante não ficar definindo o que é certo e errado, mas, sim, transmitir a informação e explicar o porquê – em última instância, não seremos nós que falaremos por eles quando forem tomar decisões.


Bouer em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura 

SM: Como blogueiro e twitteiro, qual é a sua avaliação sobre a internet como ferramenta de comunicação?
JB:
Para falar com o jovem, a internet é “a ferramenta”. O desafio é usar outras mídias que não essa para atingir esse público. Quando pensamos em um programa jovem para a televisão ou o rádio, em que eles têm uma postura mais passiva, o grande desafio é convencê-los de que pode ser tão interessante quanto a internet. Nos últimos anos, estamos tentando usar a internet como um veículo de interlocução com eles. Esse é o canal! Se você quer achá-los e tentar fidelizá-los, não tem nem como pensar em outros veículos.

SM: Atualmente, quanto tempo passa na internet comparado ao que ficava lendo jornais ou livros? Como interage com as pessoas que acessam seu blog? Acompanha diariamente e responde rapidamente?
JB:
A internet está muito presente para mim e às pessoas que trabalham com comunicação. A maior parte do meu tempo de trabalho é focada na internet, respondendo e-mails, preparando aulas, pesquisando e interagindo com interlocutores – amigos, contatos profissionais, jovens que fazem perguntas etc. Recebemos cerca de 80 a 100 perguntas por dia. Fico online boa parte do dia em que não estou estudando – pelo menos umas quatro ou cinco horas diárias. Mas ainda tento ler jornais e ver televisão para saber o que acontece no mundo. A comunicação é hoje um dos meus principais trabalhos e não há como excluir a internet. Não há outra via tão eficaz. Atuo em alguns sites e blogs de conteúdo para jovens e fico focado nisso.


O médico no comando do programa Ao Ponto, também da TV Cultura

SM: O adolescente de hoje tem os mesmos questionamentos de saúde e sexualidade que as gerações anteriores ou isso muda com o passar do tempo?
JB: Isso não é determinado pela geração, mas pela idade mesmo. Por definição, o jovem não se preocupa muito com a saúde, esses questionamentos aparecem mais tarde. Eles querem emagrecer ou ficar fortes, é uma questão mais de imagem corporal do que prevenção ou cultura de saúde. Óbvio que nos últimos 20 ou 30 anos muitos posicionamentos mudaram em relação à sexualidade. As preocupações mais frequentes são a de evitar uma gravidez indesejada e a de contrair alguma doença, como AIDS e HPV. As gerações anteriores não falavam tanto dessas doenças –  talvez essa seja a única exceção da geração.  

SM: A gravidez na adolescência no Brasil tem índices acentuados, comparados a outros países. É uma questão social, cultural ou ambas?
JB:
As últimas pesquisas demonstram uma queda de cerca de 20% nos índices nos últimos dez a vinte anos. Mas os números ainda são altos por uma questão sociocultural. Não que não aconteça na classe média alta, mas geralmente é a menina de classes sociais desfavorecidas, sem muitas perspectivas, que enxerga na gestação um projeto de vida. Essa questão e a dificuldade de acesso a métodos anticoncepcionais são as principais  causas.

SM: A exposição pública traz algum desconforto na relação com seus colegas de profissão e com as pessoas em geral?
JB:
Meu colegas entendem perfeitamente que minha relação com a mídia tem a ver com o esclarecimento e a tentativa de criar uma cultura de prevenção no público mais jovem. Já me perguntaram se não temia ficar mal visto pelos colegas, mas são 20 anos de trabalho e acredito que meus objetivos estão claros – que são aumentar a cultura de prevenção e reduzir a demanda da população ao médico, quando desnecessária. De cada dez perguntas que respondemos, cinco são “procure seu médico”. Aumentar o nível de informação da população é importante para que se tenham comportamentos mais seguros. O que se critica é o médico que usa a mídia para vender seu trabalho clínico, focado na divulgação da imagem. São colegas que contratam assessorias de imprensa para conseguir divulgação excessiva e, assim, ampliar o número de consultas. Essa é outra questão.

Mauro Aranha: No Hospital das Clínicas, em que fizemos graduação e residência médica, vimos transtornos mentais psicóticos graves, inclusive na infância e adolescência. Hoje, tendo vivenciado experiências fora da psiquiatria, de que forma vê a etiopatogenia desses transtornos?
JB:
No hospital temos muitos casos de transtornos psicóticos, mas vemos apenas os resultados e não as causas. Ao sair e ver o dia a dia dos jovens, percebemos algumas questões relacionadas à origem dos surtos psicóticos. A questão das drogas, por exemplo, como algo mais frequente e comum entre eles, pode estar relacionada às psicopatias.A preocupação excessiva com a imagem e o corpo levam algumas pessoas a usar de qualquer meio possível e imaginável para alcançar seus objetivos. Quem interage com esse público consegue enxergar precocemente e relacionar alguns fatores à etiopatogenia dos transtornos. São questões familiares muito complicadas, uso de drogas, preocupação excessiva com a imagem, pessoas com dificuldade de adaptação nas estruturas sociais etc.

Mauro Aranha: Na etiopatogenia dos transtornos, o que mais considera: a singularidade da pessoa, seus valores, o meio familiar e social, ou a história de vida na primeira infância?
JB:
Acredito que seja uma mistura – o local de origem, a criação, as interações sociais etc. Tudo isso tem papel importante no desencadeamento desses distúrbios, agravados pela predisposição genética.

SM: Tem críticas em relação à política de saúde do adolescente no Brasil ou alguma sugestão para que se obtenham melhores resultados?
JB:
Talvez falte atenção específica ao adolescente. O Brasil é um país amplo, às vezes não conseguimos fazer justiça em todos os locais. Quando conversamos com jovens de classes sociais menos favorecidas, percebemos dificuldades de acesso aos recursos de saúde; a menina que tem vergonha de passar no posto de saúde porque a enfermeira conhece a mãe etc. Se houvesse um serviço focado no atendimento aos adolescentes, talvez a adesão fosse maior. Precisamos ligar a escola aos serviços de saúde e trabalhar a prevenção. É importante ampliar a parceria entre saúde e educação, usando a escola como palco para discussão dessas questões e criar uma cultura de prevenção desde cedo. Também é importante ampliar o acesso aos métodos anticoncepcionais aos jovens desde cedo. E, ainda, disponibilizá-lo em locais que eles frequentam, nas escolas, nos clubes etc.  

Mauro Aranha: Há algum sonho que gostaria de realizar na vida, visando você mesmo ou a sociedade?
JB:
Espero um dia trabalhar com o que estudo agora – que é a ecologia humana – e publicar alguma coisa na área de ficção, algo que sempre tive vontade. Dentro de algum tempo, com mais experiência, quero atuar de forma mais pragmática em prevenção de saúde com jovens. Não só na área da comunicação, mas em algo administrativo – quero colocar mais a mão na massa.


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