SM_101_WEB

26 • SER MÉDICO DOSSIÊ: Ato Médico | CARREIRA MÉDICA ornar-se médico em outro país. O que para muitos poderia parecer fuga do desafio de tratar muitos pacientes com poucos recursos no Brasil, para mim passou a ser uma possibilidade de aprimorar conhecimentos e poder exercitá-los em sua plenitude. E, claro, proporcionar uma condição de vida melhor à família. Com muita dificuldade, fiz o Enem e o Prouni e consegui uma vaga de Medicina na Unisul, em Santa Catarina. Era aquele estudante com o sonho de ir para a Austrália, que diziam ser receptiva aos brasileiros, ou Estados Unidos, onde as condições, tanto de validação quanto de revalidação, são iguais para nativos e estrangeiros. Mas eu não tinha condições financeiras. As incertezas com o futuro da profissão médica e a instabilidade da economia no Brasil levaram-me a pensar seriamente em ampliar horizontes e buscar qualidade de vida fora do País. Sem contar que dá para pegar um voo à noite nos Estados Unidos e chegar de manhã a São Paulo. Revalidar o diploma fora do Brasil parece uma alternativa cada vez mais viável para jovens nascidos sob a égide de um mundo globalizado e das facilidades de comunicação e de conhecimento propiciadas pela internet. O domínio da língua inglesa, junto com a vontade de aprender, trabalhar e conseguir exercer o melhor de sua especialidade, induzem cada vez mais médicos a se interessarem por essa possibilidade. Começo da jornada Formei-me em 2015 e fiz Residência em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina (IPQ), em Florianópolis. Mas a ideia da revalidação do meu diploma só começou a ganhar forma quando consegui um estágio nos Estados Unidos, em 2019, graças a alguns contatos feitos durante minha Residência. Aluguei um apartamento em um aplicativo e paguei a taxa de US$ 850 para um estágio de um mês em Psiquiatria na UT Houston, Universidade do Texas. Ia de ônibus para o estágio ou caminhava 30 minutos a pé, o que me dava tempo para pensar se deveria tomar a decisão de revalidar ou não. Com o tempo, cheguei à conclusão de que queria ficar lá. Voltei ao Brasil e, no pouco tempo em que estagiei, já deu para vivenciar o choque de realidade no meu retorno. Na UT Houston, fiquei Leonardo Cruz Alexandre* T A escalada para a revalidação de diploma nos Estados Unidos abismado com a ótima infraestrutura, unidades psiquiátricas de alta qualidade, o ambiente organizado, com muito mais segurança e times de apoio, o avanço nas pesquisas e o suporte ao profissional, com grande incentivo ao ensino. Lembro que já utilizavam a quetamina para a depressão refratária e outras tantas drogas — que eu via as evidências científicas nos livros e estudos —, mas que não eram aprovadas para prescrição no Brasil. Sem falar no poder de compra dos americanos e na acessibilidade a vários serviços. Eu estava decidido a me mudar definitivamente. Comentei com meus preceptores da Residência e todos apoiaram minha decisão. E, para quem eu contava, todos diziam: “se eu fosse mais jovem, iria”. Eu me interessei pelo tipo de Medicina que se pratica nos Estados Unidos e pelas melhores oportunidades das que eu teria no Brasil. E foi lá que descobri que a revalidação do diploma pelo United States Medical Licensing Examination (USMLE) — exame oficial, promovido pela Federation of State Medical Boards (FSMB) e pelo National Board of Medical Examiners (NBME) — era acessível, com mais vagas para a Resi-

RkJQdWJsaXNoZXIy NjAzNTg=