28 • SER MÉDICO DOSSIÊ: Ato Médico | CARREIRA MÉDICA Ideia de tornar-se médico em outro país começou com estágio nos EUA [2] fundamentais nesse processo, sendo praticamente obrigatórios. Com essa documentação organizada, os candidatos “aplicam” aos programas de Residência, que estão dispostos em um sistema nacional. Os responsáveis realizam as avaliações e convidam os candidatos para uma entrevista. Consegui convites de 18 instituições, mas optei por ficar em Houston, onde havia feito estágio e onde estava minha esposa. Há uma série de dicas para melhorar a apresentação do currículo e dos documentos. Identificar suas áreas fortes e focar nelas é bastante valorizado pelos avaliadores. Existem, basicamente três eixos de atuação na Medicina: ensino, pesquisa e atendimento clínico. Dificilmente alguém terá excelência nas três. É possível montar uma aplicação muito competitiva enfatizando bem dois aspectos, de forma geral. Embora se possa, tecnicamente, revalidar o diploma passando em todas as provas, é obrigatório fazer Residência para atuar. Existem algumas exceções para grandes pesquisadores nacionais, mas são incomuns. Terceira etapa A Residência só começaria no ano seguinte, em 2021, mas não deixei de estudar e já durante a Residência, resolvi fazer o Step 3, exame teórico, de 408 questões, e mais 13 casos clínicos para análise. O Step 3, que custa em torno de US$ 1 mil, é realizado em dois dias e com temática semelhante às duas anteriores. No primeiro dia, são seis blocos de 38 questões cada, com foco em bioestatística. As perguntas giram em torno de metodologia científica, interpretação de estudos científicos e epidemiologia, além dos conceitos básicos de Medicina já cobrados em provas anteriores. Já o segundo dia é composto de seis blocos de 30 questões e mais 13 casos clínicos interativos. Passei e, agora, por último, só sobra o exame dos Boards, que é uma prova da sua especialidade feita após a Residência. Ela, porém, não é necessária para atuar como médico, mas para obter o título de especialista. É possível viver bem apenas com o que se recebe pela Residência Médica. Essa é uma diferença significativa em relação ao Brasil, em que o estudo é bastante sacrificado, já que acabamos tendo que fazer plantões para custear nossas despesas. Isso não acontece nos Estados Unidos porque a Residência é bem remunerada, chegando a cerca de US$ 60 mil por ano. Já os salários dos médicos licenciados (já fora da Residência) variam em função da especialidade e do Estado em que se atua e das taxas dos impostos. As especialidades mais valorizadas são Cardiologia, Ortopedia, Neurocirurgia, Cirurgia Plástica, Dermatologia e Oftalmologia, as quais geram remunerações anuais que beiram US$ 500 mil, enquanto a de um Clínico Geral gira em torno de US$ 250 mil. Mas se há a intenção de aprimorar conhecimentos, ter a oportunidade de conhecer e aplicar conceitos inovadores, desenvolver a área científica e ter uma melhor qualidade de vida, vale a pena superar a barreira cultural, da língua, das dificuldades iniciais das provas, da saudade da família e do clima tropical e seguir para uma nova jornada. *Residente de Psiquiatria em Houston (Texas), nos Estados Unidos [2] ARQUIVO PESSOAL/LEONARDO CRUZ ALEXANDRE
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