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SER MÉDICO • 31 MEDICINA NO MUNDO MEDICINA NO MUNDO DIFERENÇAS DE GÊNERO Várias doenças se manifestam de formas diferentes em homens e mulheres, seja na sintomatologia, no diagnóstico ou no tratamento, abordagem que passou a ser utilizada no ensino da Medicina nos Estados Unidos, na metade da década passada. A inclusão do tema na disciplina de Clínica Médica foi promovida pela lei estadual nº 16.767, instituída, em 12/06/18, com ajuda do então deputado estadual e médico Ulysses Tassinari (in memorian), sendo implantada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM), em 2019, e na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 2022. O desafio agora é ampliar para outras escolas no Estado e que legislações semelhantes sejam criadas em todo o Brasil, impedindo mortes. “Nas mulheres, o infarto mata três vezes mais que o câncer de mama por desconhecimento delas, dos familiares e de alguns médicos dos prontos-socorros, pois a sintomatologia é diferente do homem”, afirma a médica Marilene Rezende Melo, diretora científica da Associação Brasileira de Mulheres Médicas, 2ª tesoureira da Academia de Medicina de São Paulo e ex-presidente da Associação Mundial de Sociedades de Patologia e Patologia Clínica (2004-2007). Enquanto os homens têm como característica dor no peito, as mulheres podem apresentar dor leve no peito (poucos minutos), nos braços ou na mandíbula e falta de ar. Muitas vezes, esses sintomas as levam a procurar tardiamente o pronto-socorro ou ocorre a falta de diagnóstico médico, por deixarem de fazer o eletrocardiograma e exames laboratoriais para o infarto. Origem Após a 4ª Conferência Mundial de Mulheres, em Pequim (China), em 1995, em que foram debatidos temas relacionados à saúde da mulher, a Organização das Nações Unidas (ONU) recomendou a realização de iniciativas em prol da saúde de homens e mulheres. E, em 2015, a disciplina de Diferenças de Gênero já estava presente nas faculdades de Medicina dos Estados Unidos. A obra de referência no tema é Principles of Gender-Specific Medicine: Gender in the Genomic Era, livro abrangente sobre as diferenças específicas de gênero na pesquisa médica básica e clínica, da médica especialista Marianne J. Legato. Após assistir a uma aula em um congresso internacional, em 2017, em Montreal, Marilene, Elizabeth Giunco Alexandre e Anna Maria Martits, diretoras da Associação Brasileira de Mulheres Médicas, tomaram conhecimento de que morriam mais mulheres de infarto que homens, de acordo com a Associação Americana de Cardiologia, e que, quando foi feita a divulgação para leigos e médicos sobre as diferenças na sintomatologia do infarto, o número de mortes caiu nos Estados Unidos. As três médicas repetiram a experiência no Brasil, oferecendo conhecimento para o maior número possível de pessoas, por meio de aulas, apresentações e informativos. “Pretendemos mandar um alerta às autoridades de Saúde porque é importante salvarmos mais vidas de mulheres”, diz Marilene. [1] [1] SPUKKATO/ISTOCK

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