SM_102_WEB

S E R M É D I C O • 1 3 no tratamento de doenças, como a depressão e a esquizofrenia (por exemplo, tratamentos com cardiasol, insulina ou eletroconvulsoterapia), reforçaram esse vínculo. Os progressos da psicofarmacoterapia e o desenvolvimento de medicamentos eficazes para o tratamento de psicoses, depressões e oscilações bipolares do humor ajudarama desvendar os mecanismos de neurotransmissão na função cerebral. De acordo com Gattaz, nos anos 1950, houve interesse em estudos in vivo da anatomia cerebral por métodos de neuroimagem, como a pneumoencefalografia (GerdHuber e estudos do cérebro de pacientes com psicoses). E, a partir dos anos 1970, progressos nos métodos de imagem cerebral, como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética e a tomografia por emissão de pósitrons, permitiram um estudo mais detalhado da anatomia e do metabolismo cerebrais em pacientes psiquiátricos. Nas últimas décadas, o desenvolvimento de terapias, como a estimulação magnética transcraniana e a estimulação por corrente contínua, aliou-se aos métodos medicamentosos, constituindo a subespecialidade ora denominada de Psiquiatria Intervencionista. Desde sua introdução no Reino Unido, em 1985, por Anthony Baker, o método consolidou-se como uma ferramenta útil na pesquisa neurocientífica e no tratamento da depressão (ver matéria na pág. 16). PRIMÓRDIOS DA NEUROCIÊNCIA Historicamente, a trepanação, que consiste na abertura de um ou mais orifícios no crânio, é tida como o procedimento cirúrgico mais antigo para o tratamento de doenças mentais. Seu registro data de milênios, tendo sido retratada empinturas rupestres, sugerindo um aspecto comum a diversas culturas. Do Neolítico europeu ao período pré- -colombiano americano, foi utilizada na crença de que pudesse curar epilepsia, enxaquecas ou transtornos cerebrais causados por motivos espirituais. O método foi retratado no século 15 pelo pintor renascentista Hieronymus Bosch, na ocasião da extração da chamada “pedra da loucura” (ver figura na pág. 14). O cérebro já era descrito em papiros por volta de 1.700 a.C., mas, ao que parece, os egípcios não lhe atribuíam grande valor. Diferentemente de outros órgãos, ele era removido e descartado antes da mumificação, sugerindo a crença de que não seria útil nas encarnações seguintes. No entanto, por volta de 450 a.C., os gregos começam a dar importância ao cérebro e o reconhecem como centro das sensações humanas e dos processos mentais. Um pouco mais tarde, Hipócrates escreve um tratado sobre o cérebro, revelando mais detalhes sobre a trepanação. Já em Roma, por volta de 170 d.C., o médico de origem grega, Cláudio Galeno — considerado o pai da Anatomia — reforçou essas ideias, ao propor que o cérebro era o centro das sensações, da fala, do intelecto e da consciência. Influenciado pelas teorias de Hipócrates, ele considerava o temperamento humano como resultante da interação entre quatro humores, descritos como líquidos armazenados em partes do cérebro. FUNÇÕES CEREBRAIS Por volta de 1664, Thomas Willis, médico inglês da Universidade de Oxford, tentou aproximar a Anatomia, a Fisiologia e a Química dos achados clínicos de patologia nervosa. Ele descreveu o “Polígono de Willis”, um complexo vascular na base do cérebro, cuja principal função é permitir o fornecimento de um fluxo sanguíneo colateral entre os sistemas arteriais anterior e posterior do cérebro. O conhecimento científico sobre o funcionamento do sistema nervoso avança ainda mais no século 18, com a descoberta do médico Luigi Galvani, de que os neurônios funcionam a partir de impulsos elétricos. Dois cientistas foram premiados com o Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1906, por descobertas que impulsionaram fortemente a Neurociência. O médico italiano Camillo Golgi, por suas pesquisas envolvendo o modo de observar os nervos, tratando o tecido do cérebro com uma solução de nitrato de prata; e o médico espanhol, Santiago Ramón y Cajal, que, usando essa técnica de coloração histológica desenvolvida pelo seu contemporâneo, postulou que o A compreensão do funcionamento do sistema nervoso avança ainda mais no século 18, com a descoberta de que os neurônios funcionam a partir de impulsos elétricos

RkJQdWJsaXNoZXIy NjAzNTg=