2 4 • S E R M É D I C O D O S S I Ê : N E U R O C I Ê N C I A E PS I QU I ATR I A | VA N G U A R D A uso de procedimentos neurocirúrgicos com a finalidade de tratar transtornos psiquiátricos é descrito em relatos históricos desde a Idade Média, mas foi em 1935, com o advento da técnica de leucotomia frontal proposta pelo neurologista português Egas Moniz, que o procedimento passou a ter uso clínico mais amplo. Infelizmente, a leucotomia frontal passou a ser usada indiscriminadamente nos anos seguintes, sem um racional clínico e neuroanatômico adequado, resultando em sequelas e danos a milhares de pacientes, especialmente nos Estados Unidos. Em paralelo a essa “era das trevas” da chamada psicocirurgia, outras técnicas e avanços científicos permitiram que o campo seguisse outros rumos. A principal inovação a permitir a evolução da psicocirurgia para um procedimento mais preciso foi a técnica de estereotaxia, descrita no final da década de 1940 por Jean Talairach. A importância da estereotaxia está em permitir que as regiões do cérebro possam ser encontradas por coordenadas, como ocorre, por exemplo, no jogo de batalha naval ou, então, na geolocalização por latitude e longitude. A partir dessas coordenadas, uma região cerebral pode ser definida como alvo de um procedimento neurocirúrgico, o que confere maior precisão à técnica, minimizando danos a outras áreas que não devem ser afetadas. Assim, é possível seguir um racional neuroanatômico bem definido, correlacionando dada estrutura cerebral a uma função neuropsiquiátrica que se queira alterar. O principal procedimento a seguir o princípio da estereotaxia — que se desenvolveu nos anos seguintes, também descrito por Talairach — foi a capsulotomia frontal, ou seja, o uso de radiofrequência para causar uma lesão ablativa no ramo anterior da cápsula interna (ALIC, na sigla [1] JENIFFER FONTAN/ISTOCK [1] Neurocirurgia em Psiquiatria: do passado ao futuro Estimulação cerebral profunda, DBS, na sigla em inglês Edoardo Filippo de Queiroz Vattimo* O
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