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desses profissionais, que lutam por isso há anos e agora podem dizer com orgulho: “sou emergencista”. Com a especialidade ocupando cada vez mais espaços, nós, emergencistas, precisamos discutir o nosso papel e o lugar que devemos ocupar nesse complexo sistema de saúde. Para responder a essa difícil questão torna-se necessária uma análise pragmática em relação à função desse especialista. Considere uma situação hipotética: um paciente com descompensação asmática moderada que busca ajuda imediata. A questão que se coloca é: seria mais apropriado que o atendimento fosse feito por um pneumologista ou por um emergencista? No cenário de um infarto agudo comoclusão coronariana, qual profissional ofereceria o melhor cuidado: o cardiologista ou o emergencista? Agora, vamos somar esses caos a um ambiente repleto de outras complexidades, em que um paciente com broncoespasmo grave está ao lado de outro que apresentou trauma subsequente a uma síndrome coronariana aguda. Esse universo, com sua alta demanda cognitiva, fluxo constante de pacientes e coexistência de situações benignas e potencialmente fatais, é uma realidade cotidiana no famoso "pronto-socorro" brasileiro. A figura do médico emergencista transcende a limitação de um especialista em doenças específicas, atuando em uma especialidade não focal, voltada à essência das situações de emergência. É na presença dedicada e perspicaz desse profissional que reside a chave para enfrentar a realidade multifacetada e, frequentemente, enigmática do paciente na emergência. Portanto, imaginando o contexto, e não a doença, fica claro para mim o desejo de ter um emergencista ao meu lado durante uma emergência. No contexto intrínseco do SUS, surgem diversas oportunidades para o emergencista. O processo inicia-se com os serviços de atendimento móvel, identificados pelos números 192 ou 193, e prossegue com o encaminhamento para um serviço fixo de saúde, como uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), com altíssimo fluxo de pacientes e decisões constantes sobre alta, exames de imagem e transferências. A perspicácia e o discernimento de um emergencista experiente emergem como recursos fundamentais, desempenhando papel essencial não apenas na otimização de custos, mas também na promoção de decisões rápidas, assertivas e embasadas. No ambiente hospitalar, enfrentamos um problema cultural: a setorização da queixa durante o atendimento de emergência. A queixa principal do paciente determina qual especialista irá avaliá-lo. Por exemplo, pacientes com dor abdominal são atendidos por cirurgiões, enquanto aqueles com dor torácica, por cardiologistas. Essa prática favorece uma visão tendenciosa do diagnóstico, pois cada especialista foca em sua área de atuação. Portanto, devemos caminhar em direção a uma unificação dos atendimentos de emergência, na qual o emergencista, com sua visão holística, avalie o paciente. Isso ajudaria a evitar diagnósticos enviesados e promoveria um cuidado de saúde mais integrado e eficiente na emergência. A vida na emergência é um labirinto de complexidades, ecoando uma necessidade profunda por profissionais não apenas tecnicamente capacitados, mas com uma visão que transcende a sintomatologia imediata. O emergencista vem se tornando uma figura simbólica e pragmática, uma ponte entre o especialista focal e a realidade imprevisível que se desenrola nos serviços de emergência. Investir na Medicina de Emergência é ter à disposição da população um profissional que responde com habilidade, compaixão e resolução a qualquer emergência médica.  *Médico emergencista formado pelo Programa de Medicina de Emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (2017-2020), diarista da Sala de Emergência Clínica do Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e plantonista da Emergência da Santa Casa (SP). Ao atuar em uma especialidade não focal, o profissional de emergência transcende o limite de um especialista em doenças específicas S E R M É D I C O • 2 9

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