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S E R M É D I C O • 3 7 Amanda Steil alia a vocação para a emergência e as emoções do surfe [2] [2] ARQUIVO PESSOAL/AMANDA STEIL Tudo isso contribuiu para que o surfe alcançasse ainda mais popularidade, estando ligado a um estilo de vida que conquista muitos, inclusive médicos que têm a necessidade de relaxar de um cotidiano duro. Para quem já nasceu no litoral, isso pode ter um significado ainda maior, como para a médica Amanda Steil, diretora técnica da Santa Casa de Ubatuba. Nascida em Tijucas, litoral catarinense, ela sempre gostou de Biologia e ganhou uma bolsa do Prouni para cursar Medicina na Universidade do Vale do Itajaí. “Sem referências, só fui escolher a residência emMedicina de Emergência após trabalhar em pronto-socorro, onde descobri minha vocação. Gosto de sentir a adrenalina”, diz, revelando sua propensão para as emoções do surfe. Nessa época, ela morava em Camboriú, onde aprendeu a surfar. Porém, o período da residência foi na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), quando se mudou para a capital paulista, bem longe das ondas gigantes. “Ainda mais porque era a época da pandemia de covid-19, de trabalho intenso, passamos por um período desafiador em que eu não podia me reconectar com a natureza”, lembra. Quando terminou a residência, no final de 2022, transferiu-se para Ubatuba, cidade que já conhecia, ingressando na Santa Casa. Em março deste ano, assumiu a coordenação de emergência e, neste meio tempo, passou a cursar MBA em Gestão e Inovação em Serviços de Saúde, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), quando o diretor técnico teve que se ausentar e ela assumiu o cargo. “Vivo em função do propósito de vida de causar impacto positivo no mundo, e a Medicina é uma ferramenta para isso, assim como a nova posição na Santa Casa”, afirma a médica. A VIDA IMITA O MAR Foi bem acolhida por pessoas na cidadee até retornouao surfe agora, aos 28 anos. Teve que contratar um professor para superar o trauma dos dois “quase afogamentos”— quando ficou presa às correntes marítimas catarinenses na Praia Brava (Itajaí) e em Quatro Ilhas (Bombinhas) — e pelo desconhecimento do mar de Ubatuba. Mas, apesar de um pouco ofegante, bastou subir em sua prancha Evolution 6 e treinar para o medo desaparecer. Mesmo com a carga de trabalho extenuante, há várias tarefas que consegue resolver por telefone. Assim, colocou o surfe na agenda semanal obrigatória. “O mar é uma escola para a vida. No dia em que recebi o convite para a diretoria na Santa Casa, surfei e as ondas estavam maiores do que eu estava acostumada. Passei arrebentação, engoli água, mas peguei duas ondas e foram momentos felizes. Tive a sensação de que, apesar da situação difícil, a gente consegue enfrentar”, lembra ela. No trabalho, a médica vem conseguindo colocar “a prancha no trilho” (rumo adequado, na linguagem do surfe) para sair do “tubo” (manobra em que o surfista fica no interior da onda) no cotidiano do hospital. A gestão lhe permite olhar para o serviço de forma ampla, captando as falhas e montando estratégias para mitigá-las. “A ideia é sempre obter a qualidade assistencial e adequá-la à limitação financeira do serviço público de saúde. Muitos acham que a emergência é o setor de problemas, mas é que mais oferece resolutividade porque é ali que começa o atendimento”, conta. As mudanças no manejo das emergências já têm

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