8 • S E R M É D I C O Porém, o mais difícil depois do acidente foi ter de voltar para a casa dos meus pais para cuidarem de mim por um tempo, algo de que nunca fui fã, pois desde os 18 anos eu já era muito independente. Nos Estados Unidos há famílias, como a minha, que ensinam desde a infância que você já é adulto quando chega a essa idade. Suas duas opções são ir para a universidade (e pagarão por tudo) ou arranjar um emprego e se virar por conta própria. Ser — Sua concepção em relação aos médicos e à Medicina mudou a partir da sua experiência pessoal? DiMeo — Antes de sofrer esse acidente, não tinha ideia sobre omundo da Medicina, nem sobre transplantes. Algo remotamente semelhante a um transplante de face que vi foi um filme de ação/ficção científica dos anos 1990, chamado Face Off, no qual um agente do FBI (sigla em inglês para Departamento Federal de Investigação) e um terrorista — papéis de John Travolta e Nicolas Cage, respectivamente — passam por cirurgias experimentais para trocarem de rosto e de identidade. Durante o preparo para a cirurgia, fiquei mais informado, graças ao médico Eduardo Rodriguez e à sua equipe (confira o Box). É um cara legal, humilde e que vai direto ao ponto, o que me deixou confiante em fazer a cirurgia com ele. Uma das primeiras coisas que pedi quando o conheci foi as minhas mãos de volta, para que um dia voltasse a trabalhar. Ainda não estou apto a achar um emprego das 9h às 17h, pois a qualquer momento posso ser hospitalizado. Ser — Você buscou informações a respeito do doador? Como descreveria seus sentimentos em relação a ele e sua família? DiMeo — Não soube muito, apenas que era um homem de 48 anos, vitimado por um acidente vascular cerebral (AVC), que faleceu dois dias antes daminha cirurgia. Não apenas doou a mim a face e as mãos, mas também órgãos internos para várias pessoas. Escrevi uma carta aos familiares dele, especialmente sobre como eu me sentiagrato. Nunca responderam, e eu entendo, deve ser difícil perder um ente querido, mas estou aberto a conhecê-los um dia. Depende deles, sem pressão, e compreendo se nunca quiserem conversar comigo. Ser —Como costuma ser a sua rotina? Mora ainda com seus pais? DiMeo — A cada dia a minha rotina é diferente. É legal começar por uma massagem nas mãos, pois não tenho mais dinheiro para fazer fisioterapia, nem psicoterapia, o que ficou bem caro. Não paguei pelo transplante, pois foi experimental, porém tenho que arcar com todo o resto, como remédios, consultas e exames. Sou filho único, não moro mais commeus pais, mas os vejo regularmente. Desde 2023 vivo com minha namorada, Jessica, que conheci pelas redes sociais, e nossos dois Boston Terrier. Gosto de jogar sinuca, cozinhar e dirigir carros, algo que eu recentemente voltei a fazer. Meus sonhos são comprar um bom carro e lançar meu livro sobre como sofri o acidente, a vida de uma pessoa queimada e como estou agora, temas que despertam E N T R E V I S TA | J O E D I M E O DiMeo, aos 20 anos... ...e com seus pais, antes do acidente [3] [2] [2 E 3] ARQUIVO PESSOAL/JOE DIMEO
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