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S E R M É D I C O • 9 curiosidade em minhas postagens no Instagram. Não tenho aquela vocação de escrever o que vem do coração, acabo achando tudo chato, pois é só sobre a minha vida. Ser — Quais foram as implicações do transplante de rosto e de mãos em sua identidade pessoal? DiMeo — Em nenhum momento as operações tiveram objetivos estéticos. Olho para mim e penso mais nisso como uma volta à vida, à rotina, ao trabalho. Sinceramente, minha aparência não traz nenhum impacto negativo em mim: desde que me vista bem, me sinto bem. Sou uma pessoa confiante e não ligo se ficarem olhando. Com 1,80cm de altura e braços queimados à mostra, também acho que olharia. Fiquei é muito feliz ao ter a oportunidade de receber esse novo rosto, que não estava queimado, e tudo bem se o doador tinha o dobro da minha idade. Ser — Percebeu mudanças significativas em sua personalidade a partir dessa fase? DiMeo — Não me acho um cara melhor hoje do que era antes do acidente. Sou o mesmo, com uma pele diferente. Um sujeito simples, com muito mais paciência quando se trata de outras coisas na vida. O conselho sobre aparência que dou para outras pessoas, bem influenciado pela minha mãe, é para não se preocuparem com o que os outros acham, já que sempre terão algo negativo a dizer sobre você. Apenas vivam ao máximo e sejam felizes. [4] PIONEIRO NO TRANSPLANTE DE FACE E DE MÃOS Como em uma orquestra, o cirurgião plástico Eduardo Rodriguez regeu, por 23 horas, uma equipe com mais de 140 pessoas, entre médicos e outros profissionais da saúde, empreitada que resultou no primeiro transplante exitoso de face e de mãos. “Disse ao meu time: ‘todos nós sabemos o que fazer, e vamos ter sucesso’, revelou em entrevista. Proeminente médico de ascendência cubana, Rodriguez coordena o Departamento de Cirurgia Plástica Hansjörg Wyss, do NYU Langone Health, um dos principais centros médicos acadêmicos dos Estados Unidos. Além desse, protagonizou outros transplantes de face, inclusive, o primeiro duplo de face e de um olho em um eletricista acidentado no trabalho, anunciado em 2023. Um dos mais desafiadores, no entanto, foi o que envolveu Joe DiMeo. Além das graves deformidades do paciente, a equipe viu a programação do transplante ser atrapalhada pela eclosão da covid-19, em março de 2020. Durante a avaliação de DiMeo, Rodriguez buscou conhecer as expectativas do candidato, inclusive visitando sua família e comunidade em Clark, Nova Jersey. Parecia perfeito para o transplante, por ser “jovem, saudável, sem histórico prévio de problemas mentais, com uma família apoiadora, e o principal, extremamente motivado a readquirir sua independência”, afirmou o médico. O problema foi achar um doador que oferecesse os menores riscos de rejeição, “uma agulha num palheiro”, pois o sistema imunológico de DiMeo se encontrava comprometido pelas múltiplas transfusões e enxertos de pele. As chances de compatibilidade eram menores do que 6%. Quando o doador finalmente chegou, a equipe comemorou — sem se esquecer do respeito pelo falecido, que recebeu próteses de silicone macio que imitam a pele humana no lugar dos órgãos externos retirados. Fontes do Box: site do NYU Langone Health e entrevista ao Good Morning America.  [4] WARREN EISENBERG/ISTOCK Entrada dos ambulatórios do NYU Langone Center

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