1 6 • S E R M É D I C O D O S S I Ê : TR AN S P LANT E S E DOAÇÃO D E ÓRGÃOS | PA N O R AM A transplante e centrais estaduais de transplante, promovidos pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e pelas Centrais Estaduais de Transplantes. Foram criadas algumas organizações não governamentais (ONGs) nas áreas de doação e transplante e se instituiu essa disciplina em poucas faculdades de Medicina. Também houve várias campanhas de doação e a criação do Dia Nacional do Doador de Órgãos em 27 de setembro, no dia de São Cosme e Damião, padroeiros do transplante. A importância da instalação dessa política de transplante pode ser avaliada comparando as taxas de doação e de transplante obtidas em 1998 com as de 2023, publicadas no Registro Brasileiro de Transplantes. Nesses 25 anos, a taxa de doadores passou de 3,1 pmp para 19,9 pmp (6,4x); a de transplante renal com doador falecido, de 6,4 pmp para 25,5 pmp (4x); a de transplante hepático, de 2 pmp para 11,2 pmp (5,6x); e a de transplante cardíaco, de 0,4 pmp para 2,1 pmp (5,3x). As taxas de transplante de pulmão e pâncreas, que eram inferiores a 0,1 pmp, passaram para 0,4 pmp e 0,6 pmp, respectivamente. Observa-se que o crescimento das taxas de transplante foi menor que o das taxas de doação, revelando uma queda no aproveitamento dos órgãos doados. Entretanto, esse grande aumento nas taxas de transplante nesse período foi insuficiente e ficou distante do necessário para atender a demanda por transplante, conforme apresentado na Tabela 1. Novas medidas devem ser tomadas para aumentar o número de transplantes nos próximos anos, devendo se basear no tripé procura de doadores, aproveitamento dos órgãos e ingresso em lista de espera. Portanto, essas medidas devem buscar: – Aumentar a procura de doadores – Detecção de potenciais doadores; – Autorização familiar. – Melhorar o aproveitamento dos órgãos – Melhorar condições do doador e dos órgãos; – Usar órgãos limítrofes; – Disponibilizar os órgãos não utilizados no estado. – Pôr em lista de espera todos os pacientes com indicação de transplante O aumento da taxa de doadores em morte encefálica (ME) é possível devido à elevada taxa de ME estimada no Brasil, em torno de 100 a 110 pmp1,2. Essa é muito superior à taxa de países desenvolvidos (20 a 50 pmp), que necessitam usar doadores em morte circulatória. Também a elevada taxa de não autorização familiar pode ser revertida mediante o acolhimento dos familiares, o treinamento dos entrevistadores e uma melhor percepção da sociedade sobre a doação, por meio de campanhas nacionais e notícias positivas e impactantes na mídia sobre o tema, por exemplo, de pessoas famosas que se tornaram doadoras ou ingressaram em lista para transplante. Entretanto, o aumento no número de doações e transplantes nesses casos é passageiro, durando em torno de um a dois meses. É provável que os efeitos da lei promulgada nesse ano sobre a política nacional de conscientização e incentivo à doação e ao transplante6 sejam eficazes e duradouros, pois devem fornecer, além de motivação, informação e conhecimento. Outro aspecto muito importante é o treinamento e a motivação de intensivistas e emergencistas, fundamentais nesse processo Tabela 1. Necessidade anual de transplantes e taxa de transplantes realizados em 2023. Transplante Rim Fígado Coração Pulmão Pâncreas 95 30 8 8 4 19.290 6.092 1.625 1.625 812 6.035 2.365 424 78 117 31% 39% 26% 4,8% 14,4% Necessidade estimada (pmp) (n) (n) (%) Tx realizados
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