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S E R M É D I C O • 1 9 para se superar a carência de órgãos para transplantes. PRIORIDADES No País, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é o responsável por regulamentar, controlar e monitorar doações e transplantes, com o objetivo de desenvolver o processo de doação, captação e distribuição de órgãos, tecidos e células-tronco hematopoiéticas para fins terapêuticos. A lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto para os da rede privada. São parâmetros técnicos que determinam a lista de espera para um órgão específico, correspondendo, inicialmente, à tipagem sanguínea, à compatibilidade de peso e altura e à conformidade genética. Para cada tipo de órgão também são observados padrões de gravidade distintos, que estabelecem a ordem de pacientes a serem transplantados. Quando esses critérios técnicos são semelhantes, o desempate se dá pela ordem de entrada na lista de espera. Historicamente, doentes em estado crítico têm prioridade devido à sua circunstância clínica e, em algumas situações de extrema gravidade, ao risco de morte. São eventos decisórios da primazia na fila de doação: impossibilidade completa de acesso à realização de sessões de hemodiálise, na situação de doentes renais; insuficiência hepática aguda grave, para pacientes com doenças no fígado; demanda de assistência circulatória, em cardiopatas; e rejeição dos órgãos transplantados em um período recente. É curioso destacar que, no contexto brasileiro, aceita-se, com tranquilidade, que a destinação de órgãos seja baseada apenas em preceitos médicos. Nos Estados Unidos, por exemplo, há um debate de longa data que abarca um juízo de valor sobre o uso de álcool e o transplante de fígado, ou seja, em relação à elegibilidade de paciente que sofre de doença hepática terminal causada pelo hábito de beber como receptor de fígado de doador falecido. Os contrários à possibilidade de ser elegível usam a questão da “responsabilidade retrospectiva e/ou prospectiva” do indivíduo, alicerçada no princípio de autonomia, tão arraigado entre os estadunidenses. Além dessa ponderação, há outras na cultura ocidental. Em alguns cenários, alega-se que a própria conduta de se escolher o “mais doente primeiro” — que se enquadra no imperativo psicológico de salvar primeiro aqueles que enfrentam a morte iminente — supõe que outros pacientes, com doenças menos graves, possam esperar – e ser tratados mais tarde. Diz-se que esse ponto de vista desconsidera o prognóstico pós-transplante, levando a piores resultados de saúde para todos os implicados. Em conjunturas utilitaristas — que não a do Brasil —, discute-se o princípio da “maximização dos benefícios totais”, segundo o qual deveriam ser priorizados pacientes com as melhores chances de viver uma vida longa e saudável após o transplante, enquanto aqueles com pior prognóstico poderiam ser preteridos. Para a maioria dos envolvidos, contudo, seria inaceitável ignorar a necessidade individual de quem precisa mais. RECUSA FAMILIAR Entre os meses de janeiro e junho de 2022, foram registrados 1.638 doadores efetivos no Brasil, o que possibilitou a realização de 3.677 transplantes de órgãos sólidos (rim, pulmão e coração). Esse resultado poderia ser melhor, pois a quantidade de potenciais doadores chegou a 6.335, mas em alguns casos se verificaram impedimentos ao procedimento, vinculados à contraindicação médica e à parada cardíaca e morte encefálica não confirmadas, entre outros fatores. O principal obstáculo à doação de órgãos, no entanto, vincula-se à recusa familiar — por isso a conscientização é uma grande corrente para o êxito. A segunda dificuldade se refere ao pouco entendimento popular sobre o transplante como uma imNo desempenho da profissão médica, a dimensão ética do "bom" se enlaça com aquilo que se traduz em um "bem"

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