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sob demanda, bem como a engenharia genética dessas células, para que expressem fatores ou proteínas específicas a fim de promover a funcionalidade do órgão após o transplante. Conforme essas tecnologias evoluem — bioimpressoras, biomateriais e células —, estamos entrando em uma era de inovação a ser composta por três grandes ondas. A primeira, a qual já estamos vivenciando, focada no desenvolvimento de tecidos simples, como pele, osso e cartilagem. A próxima, prevista para os próximos sete a dez anos, mira em tecidos de média complexidade, como fígado, pâncreas e glândulas em geral. Finalmente, a terceira onda, que levará pelo menos mais dez a quinze anos, se dedicará aos tecidos complexos, como pulmões, rins e coração. Apesar do enorme potencial, o investimento na área ainda é limitado, o que pode ser atribuído a várias razões como a complexidade técnica, os longos ciclos de desenvolvimento e a incerteza regulatória. Reconhecendo meu viés, argumento que investir em biofabricação hoje pode ser comparado a investir em criptomoedas ou inteligência artificial há dez anos. Assim como esses campos foram considerados arriscados mas agora estão no centro de revoluS E R M É D I C O • 2 5 ções tecnológicas e financeiras, a biofabricação tem o potencial de transformar radicalmente a Saúde e a Medicina. Com o investimento adequado, a biofabricação pode superar seus desafios atuais e desbloquear uma nova era na medicina regenerativa, oferecendo retornos significativos tanto em termos humanitários quanto financeiros para aqueles que apostarem em seu futuro promissor. Vale ressaltar que, além de permitir a criação de novos órgãos, a biofabricação tem o potencial para transformar a paisagem do desenvolvimento e teste de drogas. Modelos tradicionais, que dependem fortemente de testes em animais e culturas de células bidimensionais, não conseguem prever respostas humanas com precisão. Ao criar modelos de tecidos e órgãos humanos mais precisos, a biofabricação permite reduzir significativamente o tempo e o custo associados à introdução de novas terapias no mercado. Ao olharmos para o futuro, está claro que os desafios são tão assustadores quanto as oportunidades são vastas. O caminho para criar órgãos bioartificiais totalmente funcionais está cheio de obstáculos científicos, éticos e regulatórios. No entanto, é um caminho que devemos navegar sem hesitação. O potencial para salvar vidas e mudar o curso de doenças que ceifaram tantas outras é grande demais para ser ignorado.  Referências Atala A, Bauer SB, Soker S, Yoo JJ, Retik AB. Tissueengineered autologous bladders for patients needing cystoplasty. Lancet. 2006;367(9518):1241-6. https:// doi.org/10.1016/S0140-6736(06)68438-9 Cutiss personalized skin. CUTISS announces positive Phase 2 clinical trial results for denovoSkin™. Cutiss [Internet]. 3 abr 2023 [citado em 8 mar 2024]. Disponível em: https://cutiss.swiss/cutiss-announcespositive-phase-2-clinical-trial-results-for-denov Jiang S, Guo W, Tian G, Luo X, Peng L, Liu S, et al. Clinical application status of articular cartilage regeneration techniques: tissue-engineered cartilage brings new hope. Stem Cells Int. 2020;2020):5690252. https://doi.org/10.1155/2020/5690252 Rabin RC. Doctors transplant ear of human cells, made by 3-D printer. New York Times [Internet]. 2022 jun 2 [citado em 8 mar 2024]. Disponível em: https:// www.nytimes.com/2022/06/02/health/ear-transplant3d-printer.html Rodrigues A. Ele quer imprimir o primeiro coração humano artificial em 10 anos. Exame [Internet]. 20 fev 2024 [citado em 8 mar 2024]. Disponível em: https:// exame.com/bussola/ele-quer-imprimir-o-primeirocoracao-humano-artificial-em-10-anos/. Venkataiah VS, Yahata Y, Kitagawa A, Inagaki M, Kakiuchi Y, Nakano M, et al. Clinical applications of cellscaffold constructs for bone regeneration therapy. Cells. 2021;10(10):2687. https://doi.org/10.3390/cells10102687 Wystrychowski W, Garrido SA, Marini A, Dusserre N, Radochonski S, Zagalski K, et al. Longterm results of autologous scaffold-free tissueengineered vascular graft for hemodialysis access. J Vasc Access. 2024;25(1):254-64. https://doi. org/10.1177/11297298221095994 *Médico pesquisador e empreendedor de engenharia de tecidos. No futuro próximo, é provável que haja a criação de bancos de células alógenas não imunogênicas prontamente disponíveis para uso

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