cardíaco realizado por Christiaan Barnard, em 3 de dezembro de 1967 na África do Sul, utilizou um coração DCD. Da mesma forma, o primeiro transplante cardíaco realizado no Brasil, pelo professor Euryclides de Jesus Zerbini, em 25 de maio de 1968, também utilizou essa técnica. Obviamente, em ambos os casos, todos os cuidados éticos foram observados para a constatação e manutenção dos critérios de morte encefálica. Dessa forma, de 1968 em diante, a DBD permaneceu como a única fonte de doação de coração por quase 40 anos. No entanto, a busca por novos métodos que viabilizem o aumento da utilização de órgãos para transplante impulsionou os estudos e possibilitou o aumento do pool de doadores, especialmente nas últimas duas décadas. Em 2018, cerca de 20% das doações de órgãos nos Estados Unidos foram do tipo DCD. Mais recentemente, essa modalidade foi aprimorada, e inclusive foram estabelecidos melhores protocolos que adotam a modalidade de doação controlada nos casos de DCD. Na DCD, o suporte artificial (especialmente a ventilação mecânica) só pode ser retirado obedecendo a rigorosos protocolos, e sempre após a obtenção do consentimento familiar. Dessa forma, a hipóxia evolui para parada circulatória espontânea e, após cerca de cinco minutos de assistolia, pode ser iniciada a captação dos órgãos. Cabe ressaltar que a modalidade DCD pode resultar em um menor aproveitamento dos órgãos, pois a qualidade pode estar comprometida em comparação à DBD, devido ao período de isquemia que envolve todo o processo. Em órgãos abdominais esse comprometimento parece bem tolerável, e cada vez mais publicações corroboram os resultados. Em janeiro de 2024, o grupo de transplantes hepáticos da Universidade de Pádua, na Itália, deu alta hospitalar para um receptor de 54 anos que recebeu o fígado de uma doadora de 92 anos, captado com cerca de 20 minutos de parada circulatória. No caso do transplante cardíaco, as preocupações são maiores pois, além do inerente sofrimento que ocorre em todas as suas etapas, não temos estudos capazes de prever o momento em que a lesão miocárdica é estabelecida e quanto tempo as células do miocárdio levam para sofrer uma lesão irreversível. [1] Até o momento, parece que a viabilidade do enxerto está mantida nos primeiros dez minutos após a parada cardíaca; após esse período, a função do enxerto pode estar comprometida. Estudos mais recentes sugerem que corações obtidos de DCD, com tempo de retirada menor que 30 minutos, poderiam aumentar o número de transplantes cardíacos de 15% a 30%. O aprimoramento dessa técnica possibilitou que atualmente seja adotada a perfusão regional normotérmica (ou PRN — normothermic regional perfusion). As vantagens são: a perfusão contínua de sangue quente permite restaurar a função cardíaca, reduzindo a chance de lesão miocárdica e promovendo o armazenamento energético e a manutenção da homeostase; possibilita uma melhor avaliação visual Diagrama sobre a perfusão regional normotérmica de órgãos abdominais prévia à preparação para um transplante [1] GWILZ, CC BY-SA 4.0/WIKIMEDIA COMMONS S E R M É D I C O • 2 7
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