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D O S S I Ê : TR AN S P LANT E S E DOAÇÃO D E ÓRGÃOS | T E C N O LO G I A 2 8 • S E R M É D I C O do coração e dos órgãos abdominais; permite que o coração e outros órgãos se recuperem antes da retirada do doador; e leva a uma avaliação mais precisa da viabilidade do coração e de outros órgãos em estado não isquêmico (em comparação com o armazenamento direto a frio), antes da retirada dos órgãos do doador. Para o estabelecimento dessa técnica, institui-se basicamente uma perfusão do tipo ECMO-VA (oxigenação por membrana extracorpórea venoarterial) para manter a perfusão de órgãos torácicos e abdominais, propiciando assim um menor grau de comprometimento desses após a parada circulatória. Mais recentemente, desenvolveram-se variações da técnica: a PRN toraco-abdominal (ou central) e a PRN abdominal (ou periférica). A diferença entre ambas está no sítio de canulação para a instalação da ECMO-VA. Enquanto na primeira a abordagem se dá de forma central, através de esternotomia e da canulação direta do coração e seus vasos — obviamente objetivando protegê-lo o mais rapidamente possível —, na segunda a perfusão visa garantir apenas a recuperação dos órgãos abdominais, podendo ser instalada a ECMO-VA por acesso femoral (punção ou dissecção). No caso da retirada do coração com a PRN, ele pode ser removido e preservado de duas formas para manter sua viabilidade: a convencional (a preservação estática fria, que se vale de cardioplegia e cristaloides); e pelo uso de máquinas de perfusão, que se valem de solução sanguínea específica. Dessa forma, podemos ter hipotermia (temperatura ao redor de 8ºC) ou normotermia (a 36,5ºC). Essas máquinas propiciam, de forma disruptiva, uma preservação próxima da ideal, pois quando utilizadas, ajudam a obter o enxerto em um ambiente não hipóxico e protegido para tolerar tempos de isquemia maiores. No caso das máquinas que promovem a normotermia, a preservação pode chegar a impressionantes 24 horas. Essa situação proporcionaria a captação e consequente utilização de corações retirados em locais muito mais distantes dos centros transplantadores. Além disso, no caso de reoperações (cada vez mais frequentes), elas protegeriam os enxertos em um ambiente não hipóxico durante a liberação de aderências, que por vezes são extremamente firmes. Um estudo publicado no Journal of the American College of Cardiology em 2023 comparou os resultados clínicos de receptores de corações DCD — a maioria deles recuperados com o uso de PRN — e de receptores de corações DBD em um período de seis meses a um ano. Os receptores de DCD foram menos propensos a necessitar de suporte circulatório mecânico temporário pré-transplante em comparação com os de DBD. Não houve diferenças significativas entre os grupos quanto à sobrevida, à incidência de disfunção primária grave do enxerto, à rejeição tratada durante o primeiro ano ou à probabilidade de vasculopatia do aloenxerto cardíaco um ano após o transplante. Pelo que foi dito até aqui, fica claro que essa modalidade de captação e de preservação dos enxertos cardíacos pode aumentar significativamente o número de transplantes realizados; ainda mais em um país como o Brasil, Na DCD, o suporte artificial, especialmente a ventilação mecânica, só pode ser retirado obedecendo a rigorosos protocolos, e sempre após o consentimento familiar

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