8 • S E R M É D I C O do esporte. Os atletas e a equipe médica acabam se tornando um tipo de família, tanto pelo convívio, quanto pelos objetivos em comum. As situações da Rebeca e da Ana Marcela foram emblemáticas na minha vida. Elas vivenciaram problemas médicos complexos, capazes de abalar seu estado psicológico e saúde mental, levando-as, inclusive, a ter dúvidas sobre o futuro, se seria possível voltar a apresentar performances de alto nível após as lesões. A superação foi obtida pelo imenso esforço e sacrifícios próprios, e por conta da integração com treinadores, equipe e sua própria família. Todo mundo chorou quando chegaram ao pódio. Senti como se fossem minhas próprias filhas competindo — e todo mundo sabe que nossos filhos têm mais importância do que nós mesmos. Ser — Em uma situação pontual, como a preparação de atletas para competição, é possível estabelecer uma relação médico-paciente, da mesma forma que o seria no contexto de assistência, em hospital e/ ou consultório? Sasson — Com certeza é possível, pois, no final, o que queremos é ajudar na melhora da saúde de ambos. Na verdade, acabamos convivendo mais com os atletas do que com pacientes no ambulatório e no consultório, porque há épocas em que ficamos o dia inteiro com eles em treinos e em viagens. A identificação pode ser ainda maior. Nas últimas olimpíadas, em Paris, ficamos com os atletas de manhã, tarde e noite, fazendo refeições juntos, indo aos jogos. Foram quatro semanas longe da nossa rotina. Além de tudo, o atleta se torna uma espécie de colega de trabalho, e existe uma proposta comum de sucesso coletivo. Cria-se um tipo de interação na qual acabamos conhecendo mais a realidade dele, como é sua família, suas necessidades, pontos fortes, fragilidades, e como é possível ajudar, se for o caso. Esses passos são essenciais para estabelecer um elo de confiança e alcançar os melhores resultados no trabalho como um todo. É o que torna a especialidade mais humana. Ser — No Brasil, a Medicina Esportiva está evoluindo ao nível de países desenvolvidos, na prevenção e tratamento de lesões, e no preparo e desempenho das equipes? Sasson — Posso afirmar que somos referência na área, a partir da experiência com outros comitês olímpicos, com grupos de outras modalidades, e depois de participar de cursos e pós-graduações nesse universo. Conseguimos ser um parâmetro internacional. Não conheço País que valorize mais o aspecto humano nas competições do que o Brasil, na forma calorosa de lidar com o atleta, de querer o melhor para ele, de entender suas nuances e avaliá-lo, tentando extrair dele o melhor em seu desempenho e vê-lo feliz com isso. Países como os Estados Unidos e Inglaterra priorizam acima de tudo as tecnologias disponíveis, nós tamO COB foi o comitê mais completo em especialidades médicas durante as Olimpíadas [2] [2] ARQUIVO PESSOAL/RODRIGO CARNEIRO SASSON E N T R E V I S TA | R O D R I G O C A R N E I R O S A S S O N
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