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S E R M É D I C O • 1 1 niões ou discutir, o que, de certa forma, facilita o debate. A atleta argelina foi liberada para competir, e, desde então, até o que se sabe, está dentro das normas em relação à variação das taxas hormonais. Nesse tema, há situações previamente definidas. Existem questões que compreendem patologias que resultam em certas variações hormonais que são aceitas para as competições. Inclusive, há atletas que conseguem autorização especial para usar hormônios por algum problema de saúde, não para obter qualquer vantagem, mas com o objetivo de manter a integridade de sua vida. É bem diferente de doping, coisa que ninguém admite. As situações que geram mais discussão são as que envolvem a participação de transgêneros nas competições. A autorização vai variar de federação para federação internacional, incumbida de monitorar os níveis hormonais de seus atletas. Ser — Hoje o senhor tem o cargo mais alto de um médico dentro do COB, chefe e supervisor médico. Como chegou a esse posto? Sasson — Na maioria das vezes, quem assume esse lugar são médicos que têm trabalhado em modalidades do Comitê há um certo tempo, o que era o meu caso, pois estou lá há oito anos. Mas não há nada que impeça um diretor ou o presidente de contratar alguém que nunca tenha assumido o cargo. Em geral, são médicos com experiência na Medicina Esportiva, em práticas de alto rendimento, em fisioterapia, preparação física e mental, massoterapia, nutrição, biomecânica, e que tenham trilhado um caminho de conhecimento dos atletas, da instituição, das regras, fluxos, protocolos, e com bom contato com as confederações e modalidades, fazendo com que consigam liderar tanto a equipe médica como o trabalho que envolve os diferentes esportes. A função primordial é liderar a equipe médica envolvida no dia a dia dos atletas e das modalidades, promovendo uma boa integração com a equipe multidisciplinar. O COB tem uma estrutura de treinamento no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca, onde fica toda a equipe multidisciplinar, e dá acesso a tudo. Ser — Quais foram as razões que levaram à melhora da performance dos atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos Paris 2024, inclusive em novas modalidades, como a marcha atlética? Sasson — As razões são multifatoriais e englobam maior investimento do COB, desde as categorias de base para desenvolver as modalidades; estrutura de treino, com treinadores que são referência internacional; equipe multidisciplinar completa; e disponibilização de tecnologias e equipamentos. Também é importante uma organização administrativa muito completa, capaz de apoiar o desenvolvimento de todas as modalidades, do início até a profissionalização. Ao longo dos anos, isso vem trazendo a possibilidade de melhores resultados até emmodalidades que, antes, não garantiam resultados tão expressivos, como a marcha atlética e o tênis de mesa, algo que vai refletir no futuro dos esportes e, quem sabe, ser a inspiração para crianças e jovens buscarem se profissionalizar, entendendo que essa escolha pode ser uma opção de vida e até de transformação da sociedade. São coisas que não dependem do uso de algum suplemento, e sim de acesso a condições de saúde e performance do mais alto nível, que deve ser estimulado pelas instituições, com apoio de uma equipe multidisciplinar capacitada para orientar a nutrição adequada e sobre a necessidade de sono e repouso, que são os pilares para a saúde e a boa performance. Idealmente, precisamos criar condições para chegar às competições com cada vez mais atletas, tornando possível ao Brasil obter mais medalhas e melhores resultados.  "A Medicina Esportiva talvez seja a área mais completa, pois envolve, além de médicos ortopedistas, cardiologistas, neurologistas, reumatologistas, e até psiquiatras, entre outros, e todos se complementam no esporte de alguma forma"

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