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S E R M É D I C O • 1 7 estressor fisiológico e, na presença de uma doença de base desconhecida, acaba por ser um gatilho para esses eventos. Por ser a morte súbita um evento raro, com incidência variada, a depender da população estudada, existem divergências sobre o modelo ideal dessa avaliação pré-participação. No Brasil, a atualização da Diretriz em Cardiologia do Esporte e do Exercício da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e Esporte preconiza a avaliação clínica cardiovascular e o eletrocardiograma em repouso como classe I de indicação; e nível de evidência A para atletas competitivos profissionais. Nos atletas, o teste ergométrico, ao se iniciar a temporada esportiva, é considerado classe IC, e, quando disponível, preferencialmente, o teste cardiopulmonar, como IB. Apesar de conhecermos a existência de adaptações estruturais cardíacas relacionadas ao tipo, à intensidade e ao volume de exercício executado, o ecocardiograma em repouso é considerado modalidade diagnóstica confirmatória em casos suspeitos, após a avaliação da pré-participação inicial com história, exame físico e eletrocardiograma. Já para atletas amadores, aqueles que não têm seu sustento atrelado ao esporte, a indicação do eletrocardiograma em repouso mantém-se como IA, mas, para o teste ergométrico, as evidências que suportam valor são mais baixas, e a indicação para o teste, antes de se iniciar um programa de exercícios de alta intensidade, passa a ser IIa, nível de evidência A. Entretanto, é importante ressaltar que é exatamente nessa parcela de atletas que podemos nos deparar com a necessidade de investigação mais aprofundada, pois, apesar de não serem profissionais, muitas vezes têm carga de treinamento similar, mas com uma periodização, alimentação e recuperação inadequadas, somadas a uma vida social e de trabalho não condizentes com as necessidades do organismo para se recuperar, quando o objetivo é desempenho. Portanto, na prática, muitas vezes a avaliação realizada acaba sendo muito parecida com a de atletas profissionais e dependente da avaliação clínica inicial e do julgamento e da experiência do avaliador. É interessante ressaltar que o fato de serem atletas não exime esses indivíduos de apresentarem fatores de risco. Em amostra de atletas amadores e profissionais de um ambulatório de cardiologia do exercício e do esporte, identificou-se que 31% dos homens e 36% das mulheres tinham dislipidemia e que a hipertensão arterial esteve presente em 13% das mulheres e em 7% dos homens avaliados, apesar da baixa incidência de cardiomiopatias. Na avaliação clínica desses atletas, é fundamental não apenas considerarmos a história clínica e os fatores de risco atuais, mas, sim, todo o histórico ao longo da vida, pois muitos podem ter antecedentes de fatores de risco, como obesidade, tabagismo, hipertensão arterial, alteração glicêmica, além de etilismo, que os levaram a mudar o estilo de vida. Considerar apenas os fatores de risco do momento pode fazer com que subestimemos o risco da presença de doença. É muito importante ressaltar que, quando falamos da avaliação pré-participação de atletas, não podemos generalizá-la para toda população. Nem burocratizar a indicação de uma das maiores ferramentas que temos para a melhora da saúde cardiovascular, osteomuscular e metabólica dos nossos pacientes, o exercício físico. Um dos grandes problemas que temos atualmente é o alto comportamento sedentário da população. Incentivar a prática de exercícios deve ser parte da consulta médica e não requer a necessidade de ampla avaliação diagnóstica. Apesar dos inúmeros benefícios do exercício à saúde física, metabólica e mental, não podemos esquecer que ele também é um potencial estressor fisiológico

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