SM_105

S E R M É D I C O • 2 5 em que o uso de medicamentos proibidos é necessário para tratar condições médicas genuínas. A Autorização de Uso Terapêutico (AUT) permite que atletas utilizem esses medicamentos, desde que comprovada a necessidade médica e a ausência de vantagem adicional. Cabe ressaltar que um dos critérios para a concessão de uso de AUT é que a utilização de medicamento com substância ou método da lista proibida não seja consequência do uso anterior, sem uma AUT. Vale destacar, ainda, que é fundamentalmente necessário ao médico que acompanha um atleta, além do conhecimento técnico, ter entendimento claro sobre a legislação específica. No Brasil, o acompanhamento é feito pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), agência vinculada ao Ministério do Esporte e credenciada pela Wada, responsável pela política de prevenção, controle e combate à dopagem em esportes no País. Novo código passa por consulta pública A Wada abriu consulta às partes interessadas para o novo Código Mundial Antidoping, previsto para 2027. A sondagem foi iniciada em maio, encerrando-se em outubro de 2024. Criada em 1999, a agência teve seu primeiro código em 2004, passando por quatro atualizações: em 2009, 2015, 2018 e 2021. O papel da Wada, assim como das agências locais credenciadas, é crucial e está em constante desafio para garantir a isonomia das competições e a credibilidade perante a comunidade esportiva. As questões relacionadas ao doping, lamentavelmente, ainda são frequentes e impactam os competidores em geral, e não apenas os envolvidos. Em 8 de agosto deste ano, a Wada emitiu uma nota informando sobre fraudes cometidas pela Agência Antidoping dos Estados Unidos (Usada), que permitia aos seus atletas competirem violando o código mundial. Pouco antes do início das Olímpiadas de Tóquio, em 2020, a agência puniu a Rússia, excluindo o país de grandes competições esportivas por quatro anos, por falsificação de dados antidoping. São apenas dois de muitos exemplos que demonstram a necessidade do órgão regulador e da atualização frequente de seu código. O objetivo principal é aprimorar o conhecimento e as condutas, contribuindo para uma política antidoping mais robusta e atualizada. Educação e prevenção Além das regulamentações, a educação desempenha um papel crucial na prevenção da dopagem. Os atletas, os treinadores e as equipes médicas devem ser bem-informados sobre os riscos e as consequências do uso de substâncias proibidas. Os programas educacionais eficazes abordam os aspectos técnicos das regras antidopagem e as questões éticas envolvidas. Cabe aqui a ressalva de que a educação é a maior ferramenta no combate ao uso e abuso de substâncias, especialmente porque não existem regras de doping fora do meio esportivo; ainda que os riscos à saúde sejam os mesmos, ou ainda maiores, em pessoas que praticam atividade física e utilizam substâncias para melhorar performances ou para fins estéticos. O uso de substâncias dopantes é antiético e ilegal, além de representar sérios riscos à saúde dos atletas. O combate a essa prática exige uma abordagem multifacetada, com regulamentações rigorosas, emissão criteriosa de AUTs, quando necessário, e educação constante. É crucial que os médicos se lembrem dos princípios que balizama profissão e que priorizem a saúde e o bem-estar dos atletas e praticantes de atividades físicas, promovendo uma competição justa e o respeito pelas regras.  *Especialista em Ortopedia e Medicina Esportiva, atual presidente da Sociedade Paulista de Medicina Desportiva (Spamde), ex-diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte — SBMEE (20192023); e ex-chefe médico do Comitê Olímpico do Brasil — COB (2014-2020). Tanto os atletas como o pessoal de apoio – que inclui o médico envolvido com os resultados analíticos adversos – estão sujeitos a julgamento

RkJQdWJsaXNoZXIy NjAzNTg=