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jogos, já que fizeramparte da Semana Olímpica de E-sports, organizada pelo COI em2023, emSingapura. Treinamento, riscos e benefícios Apesar do avanço do setor, muitos jogadores ainda mantêm rotinas de treino sem a devida supervisão técnica. A prática diária pode superar 12 horas de jogo, muitas vezes sem um planejamento adequado. Os atletas frequentemente permanecem em posturas inadequadas, realizando movimentos repetitivos (com jogadores profissionais chegando a mais de 400 ações por minuto) de alta complexidade e em ambientes com iluminação insuficiente e equipamentos com ergonomia inadequada. Portanto, não surpreende que as principais lesões encontradas são decorrentes de esforços repetitivos e posturas inadequadas. A literatura, embora crescente, ainda é limitada, mas aponta para a prevalência de dores lombares e cervicais, comuns a todas as plataformas, com maior incidência de lesões nos extensores dos dedos, especialmente a tenossinovite de De Quervain, em jogadores de mobile. Nos PCs, dores nos ombros, cotovelos, punhos e dedos variam conforme a sensibilidade do mouse (quanto menor a sensibilidade, maior a movimentação de ombros e cotovelo) e a postura adotada. Ainda é comum que jogadores se aposentem antes dos 30 anos devido a lesões ou condições adquiridas durante a carreira, muitas vezes agravadas por hábitos sedentários, sono inadequado e ausência de atividade física regular. Estudos recentes indicam que o aumento das horas de jogo está associado à deterioração de indicadores de saúde física, incluindo hipertensão e diabetes. Queixas oftalmológicas também são frequentes, com relatos de fadiga ocular, olhos secos e baixa acuidade visual. Diante dessas questões, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com a União Internacional de Telecomunicações (ITU), desenvolveu protocolos para o uso adequado de equipamentos, como fones de ouvido (abusos em volume tem elevada correlação com perda auditiva) e incluiu o transtorno de jogo (Gaming Disorder) na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), definindo-o como uma condição de compulsão por videogames. Embora os desafios associados à prática de videogames sejam significativos, seus benefícios à saúde também devem ser considerados e, como ocorre com medicamentos, o efeito depende da “dose”. Estudos indicam que mesmo jogos tradicionais podem promover melhorias em áreas como atenção, concentração, criatividade, raciocínio lógico, memória, coordenação motora fina, tempo de reação simples e de escolha, percepção espacial, resiliência, habilidades sociais e trabalho em equipe. Além disso, pesquisas com jogadores profissionais de FPS revelam níveis elevados de atividade cortical, e estudos com idosos demonstram melhoras cognitivas significativas em decorrência da prática de jogos. O uso de videogames como ferramenta terapêutica tem ganhado espaço nos protocolos de tratamento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem destacado a importância dessas tecnologias em diversas áreas, incluindo a reabilitação com jogos que estimulam a movimentação física; o tratamento de traumas por meio da realidade virtual; e o incremento das interações sociais. Além disso, o desenvolvimento de novos jogos e aplicativos voltados para a gamificação e promoção da atividade física tem sido cada vez mais explorado. Oportunidades em e-sports A atuação do médico do esporte no cenário dos e-sports compartilha similaridades com as modalidades tradicionais, mas apresenta particularidades. As empresas que desenvolvem os jogos detêm controle sobre as regras, o equilíbrio entre os personagens e até mesmo sobre a continuidade do jogo, o que influencia diretamente a prática esportiva. Ainda assim, equipes profissionais de e-sports seguem regras contratuais e legais semelhantes às de clubes esportivos tradicionais. S E R M É D I C O • 2 7 A preocupação como bem-estar dos atletas abrange aspectos como ergonomia, padrões de sono, saúde mental e prevenção de lesões

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