S E R M É D I C O • 3 9 R E S E N H A GreenBook , o encontro improvável,mas possível, entre as diferenças Angelo Vattimo* Dirigido por Peter Farrelly, Green Book é um drama baseado em eventos reais que transcorreram durante os anos 1960, nos Estados Unidos. A história envolve Tony Lip (Viggo Mortensen), um ítalo-americano truculento e aparentemente pouco culto, que, a procura de emprego, se torna motorista de Don Shirley (Mahershala Ali), um renomado pianista afro-americano, que buscava um assistente para sair em turnê pelo sul daquele país. De pronto, o próprio título do filme revela as tensões raciais que se desenvolvem ao longo da trama e estavam em seu auge nos Estados Unidos. Green Book refere-se a um guia que viajantes negros poderiam usar para encontrar acomodações e restaurantes onde pudessem ir, uma vez que à época imperava no país a política de segregação racial. Asmuitas situações conflituosas por que passamTony e Don durante a turnê—que representa não apenas uma viagem, mas o surgimento de uma amizade improvável entre personagens aparentemente antagônicos — se desenvolvememmeio à existência ameaçadora de diferenças culturais e barreiras sociais entre brancos e negros. Apesar das diferenças e dos aparentes preconceitos iniciais, a amizade entre Tony e Don Shirley evolui ao longo da história. O pianista revela-se um homem talentoso, solitário, que enfrenta não apenas a questão do racismo, mas também barreiras em relação à sua sexualidade. E o interessante é que cada vez mais o improvável acontece, e os dois personagens se aproximam de tal modo que surge um laço muito grande de amizade e proteção entre eles, fazendo com que Tony salve o artista de diversas situações embaraçosas. O preconceito que existia em relação a locais públicos, se dava também no âmbito das relações so- [1] DIVULGAÇÃO/UNIVERSAL [1] ciais. E o fortalecimento da amizade entre os dois personagens simboliza não só a superação do preconceito de Tony e seus familiares — que recebem muito bem Don Shirley em sua casa — mas a transformação social que começa a se delinear. O pianista acaba por se rebelar durante sua turnê, recusando- -se a apresentar seu espetáculo, acompanhando pari passu o movimento de revolta dos negros e dos próprios brancos americanos contra a segregação racial. Green Book foi bem recebido pela crítica e pelo público, ganhando o Oscar de Melhor Filme em 2019. É uma obra cinematográfica que vale a pena assistir — a história é interessante e o enredo não é monótono. A trama proporciona uma visão crítica sobre um período conturbado da história norte-americana — combinando entretenimento com reflexão sobre a chocante situação de segregação racial que havia nos Estados Unidos — ao mesmo tempo em que destaca a importância da empatia e da conexão humana em meio à adversidade e à diferença. *Médico cirurgião e presidente do Cremesp.
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