S E R M É D I C O • 4 1 ILUSTRAÇÃO: DEHILA CAMPELO agruras, entretanto, não puderam resistir à grandeza de sua alma: em nenhum momento ele perdeu o esboço de sorriso que emoldurava de ternura o semblante de médico provecto. Um belo dia, após algumas semanas lá vivendo, recebeu uma visita. Era um homem bem vestido aparentando cerca de 50 anos. “Eu o conheço?”, perguntou o médico. “Sim, muito bem! Eu mudei um pouco”, respondeu o homem sorrindo. “Minha mãe sempre me falou do médico que salvou a minha vida e a dela numa noite de Natal, na roça. Eu me chamo Hypólito. Minha mãe, agradecida, deu-me seu nome. Sou o dono da incorporadora que comprou o imóvel onde o senhor residia. Quando soube que o senhor estava aqui, vim para dizer-lhe que quero que venha morar no ‘Grande Hotel’, que acabei de comprar. Todos os funcionários estarão ao seu dispor, bem como o restaurante e tudo de melhor que há por lá, pelo resto de sua vida”. O médico viveu por mais 15 anos, lá falecendo aos 103, em plena lucidez. Hoje, quem vai àquela cidade pode ver, onde era sua casa, o imponente edifício Dr. Hypólito Fontoura, onde fica o maior centro médico da região. Na entrada, há uma placa com os dizeres: “Homenagem ao grande médico sem cuja abnegação e amor à profissão não teria sido possível a construção deste edifício. Gratidão do Engenheiro Hypólito Natalino da Silva que, como tantos nesta cidade, lhe deve a dádiva da vida”. *Médico cirurgião plástico.
RkJQdWJsaXNoZXIy NjAzNTg=