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Notícias
04-09-2013 |
Jornal da Cidade |
“Pau que bate em Chico bate em Francisco” |
Carlos Alberto Monte Gobbo e José Eduardo Marques* Este é um velho ditado que bem cabe à discussão dos médicos estrangeiros que estão chegando ao Brasil sem passar por qualquer tipo de avaliação de sua formação e capacitação para exercer a profissão no País. Não somos contra a vinda, mas contra o tratamento diferenciado dado a eles, que não ocorre com nenhuma outra profissão regulamentada. Todos os países que se preocupam com o bem-estar de seus cidadãos e a proteção de suas instituições têm legislação que obriga não só a médicos, mas também a outros profissionais, que se submetam a uma validação de sua formação. O Brasil conta com 208 faculdades de Medicina e forma mais de 16 mil médicos por ano. Em 2026, a previsão é que haja 2,8 médicos por 1 mil habitantes, ou seja, maior que o desejável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Porém, o grande problema da precariedade da saúde brasileira também passa pela má distribuição de profissionais em território nacional. No entanto, se os fatores que desestimulam os médicos a se fixarem em áreas remotas do interior de nosso País e nas periferias pobres das grandes cidades não se modificarem, continuaremos a ter superpopulações de médicos concentradas em regiões com mais recursos. Exemplo disso são os vários médicos que migraram de Cuba e outros países, com diploma devidamente revalidado em nosso País para trabalhar em Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, mas que acabaram migrando para o Sudeste, principalmente nos grandes centros urbanos. É o que irá acontecer enquanto os governantes continuarem tratando a Saúde com leviandade. Não há como fixar um bombeiro em uma cidade que não tenha equipamentos mínimos de combate a incêndios e outros acidentes, da mesma forma que não há como exercer o Direito se a cidade não tiver um fórum ou uma delegacia. Não há como exercer a Medicina sem uma estrutura mínima local e uma rede de apoio para as situações mais complexas, que receba seus encaminhamentos de forma rápida. Já se foi a época em que o médico e sua maleta com estetoscópio e beberagens eram o universo da pratica médica. Ao permanecer em locais onde as condições são indignas para o exercício profissional, o médico se torna co-responsável pelos resultados da qualidade da assistência prestada à população. E acreditem que isso ocorre de forma disseminada em nosso País, não só nos locais em que há suposta carência de médicos, mas até nos grandes centros e hospitais públicos. Bauru é um exemplo. Em recente levantamento feito pelo Departamento de Fiscalização do Cremesp junto a prontos-socorros em todo o Estado de São Paulo, foram constatadas más condições de funcionamento, como macas espalhadas pelo corredor, gente tomando soro sentada, condições de limpeza precárias, medicamentos e equipamentos inadequados e retaguarda de internação insuficiente. Ou seja, um caos. Não é a toa que esteja enfrentando dificuldades para contratar e fixar seus quadros médicos. Em 1991, a prefeitura de Bauru tinha 256 médicos, enquanto a população desses profissionais na cidade era de pouco mais que 400. Em 2013, a prefeitura tem 218 médicos e, no último concurso, só conseguiu contratar dois, sendo que a cidade conta com quase 1 mil profissionais. Não é falta de médico, mas de gestão e compromisso com a boa prática médica. Os gestores municipais, estaduais e federais tratam a Saúde como um problema político e não de direitos humanos e cidadania. Discutir salários das profissões é uma mediocridade. Quanto vale um juiz de Direito? E um dentista? Um engenheiro? Um jornalista? Um jogador de futebol? Quanto vale um médico? Valemos pela importância do que fazemos e pela capacitação e qualificação naquilo que nos propomos fazer. Não estamos em um país totalitário, mas constantes tentativas de atropelos das garantias constitucionais estão ocorrendo. Somos uma Democracia e nos orientamos pelas regras do capitalismo, em que as pessoas são livres para escolher quais são suas melhores oportunidades de crescimento, de valorização profissional e locais de trabalho adequados para exercer sua profissão. No capitalismo, empresas ineficientes e mal geridas são condenadas à falência. E, infelizmente, esse parece ser o fim da maioria dos serviços públicos oferecidos em nosso País, em especial os da saúde e educação. É lamentável que hoje, com objetivos claramente eleitoreiros, vem se tentando convencer a população de que o caos na Saúde é responsabilidade dos médicos. Estão demonizando uma profissão que muito tem se sacrificado e resistido a esta desídia e ao abandono dos nossos governantes. Somos médicos brasileiros com muito orgulho. Eu, como muitos dos colegas de meu tempo, tenho toda a minha escolaridade concluída em escola pública. Nós nos formamos com muito sacrifício e dedicação, contrariando o discurso de ódio e desprezo que vem sendo insuflado no povo brasileiro de que somos parte da elite. Isso é no mínimo ultrapassado. Não somos nem melhores nem piores que os outros seres humanos, temos as mesmas necessidades e desejos, procuramos e nos preparamos para sermos médicos sob as regras do nosso País. Apenas queremos ser respeitados como todos no exercício da sua profissão. Combateremos os ataques que venham a colocar em risco a credibilidade que nossa profissão alcançou junto à população brasileira, apesar de todo o caos da saúde pública. Mas se isto acontecer, sob o olhar passivo e omisso das forças democráticas e legalistas de nosso País, aí sim estaremos consolidando dois grupos de cidadão brasileiros: os que podem ter acesso a médicos bem-formados e estruturas particulares de Saúde adequada, e os outros, atendidos por profissionais de formação desconhecida e em locais desprovidos da mínima estrutura para a prática médica. Afinal, de que elite estamos falando? *Carlos Alberto Monte Gobbo – conselheiro do Cremes e professor do Departamento de Urologia da Faculdade de Medicina – Unesp Botucatu. José Eduardo Marques, presidente da Associação Paulista de Medicina - Regional Bauru - e 7° Diretor Distrital da APM-SP. Artigo originalmente publicado n o Jornal da Cidade, de Bauru, página 2 - Opinião, em 30/08/2013
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