A renomada médica Angelita Habr-Gama, especialista em cirurgia do aparelho digestivo, alcançou um feito notável ao tornar-se a primeira mulher a receber a medalha Bigelow, concedida pela Sociedade de Cirurgia de Boston, Estados Unidos. A homenagem, criada há mais de cem anos para reconhecer a contribuição excepcional de cirurgiões no progresso científico e na educação cirúrgica, foi entregue, até agora, a apenas 34 profissionais ao redor do mundo.
Durante a cerimônia realizada em Boston, no último dia 6 de novembro, a Sociedade de Cirurgia de Boston destacou a pesquisa inovadora de Angelita e colegas sobre o uso de quimioterapia e radioterapia para o tratamento de câncer de reto sem a obrigatoriedade de cirurgia, promovendo uma mudança no paradigma da conduta médica deste tipo de neoplasia maligna.
Em entrevista ao Cremesp, Angelita afirmou se sentir extremamente honrada com a homenagem, destacando que o reconhecimento vai além da esfera pessoal, sendo representativo não apenas de uma conquista individual, mas de uma vitória para o Brasil e para todas as mulheres. “No entanto, as distinções não definem um médico brilhante, e, sim, acordar cedo, cuidar dos pacientes, operar... algo que continuo fazendo até hoje”, comentou.
Convidada a compartilhar uma mensagem com os médicos jovens, a cirurgiã enfatizou sua proximidade com eles e destacou que a prática médica vai muito além dos seis ou dez anos de estudo formal. "Até hoje, dedico minhas tardes de domingo ao estudo, mas também reservo tempo para ir ao cinema, jantar fora ou encontrar familiares e amigos."
Para o presidente do Cremesp, Angelo Vattimo, sua história reflete a determinação, a excelência profissional e a busca por avanços na Medicina, abrindo caminho para mais mulheres na área de cirurgia e influenciando positivamente a comunidade médica brasileira e, também, internacional. “Este feito histórico de Angelita Habr-Gama demonstra não apenas sua excepcionalidade como profissional, mas, também, sua significativa contribuição para o avanço da ciência, em particular para o desenvolvimento da coloproctologia no País”, ressaltou.
Trajetória
Além de suas conquistas notáveis, a trajetória da médica é marcada pela superação de diversos desafios. Nascida na Ilha de Marajó, Pará, em uma família de imigrantes libaneses, ela enfrentou resistências desde o início de sua opção pela Medicina. Mesmo diante de objeções familiares e discriminação de gênero na área cirúrgica, Angelita persistiu, tornando-se a primeira mulher residente de Cirurgia no Hospital das Clínicas, e a primeira professora titular de Cirurgia no Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), cuja disciplina foi criada por ela. Nessa mesma universidade, a médica se graduou e realizou o doutorado e livre-docência.
Reconhecida como uma das cientistas mais influentes do mundo, fundou e preside a Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino (Abrapreci) e é diretora do Instituto Angelita e Joaquim Gama, médico com quem é casada há 50 anos.
Entre os seus inúmeros títulos e distinções destacam-se: membro honorário da centenária sociedade científica American Surgical Association, desde 2002; e do American College of Surgeons, desde 2004. Também foi o primeiro médico latino-americano e a primeira mulher a integrar o seleto grupo de membros honorários da European Surgical Association, em 2006.
Em seu currículo, Angelita elenca a publicação de 307 trabalhos científicos em periódicos; 204 capítulos em livros; 52 artigos em jornais e revistas; 341 resumos em anais e a apresentação de 2.401 trabalhos em congressos.
Em 2020, a médica lançou a biografia O não não é resposta, escrita por Ignácio de Loyola Brandão, na qual relata “as barreiras enfrentadas e as realizações na área cirúrgica, ainda hoje uma das com menor número de mulheres”.
Angelita Habr-Gama continua a atender pacientes em seu consultório e a realizar cirurgias no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, demonstrando seu compromisso com a Medicina.
Para mais informações sobre a Medalha Bigelow, acesse: https://www.bostonsurgicalsociety.com/bigelow-medal-recipients/
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