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Editorial de Isac Jorge Filho: Pequenas Mudanças


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A psiquiatra Carmita Abdo é a convidada especial desta edição


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Edição 31 - Abril/Maio/Junho de 2005

CONJUNTURA

Medicina Esportiva

Medicina esportiva

* João Gilberto Carazzato

Os avanços científicos e o aumento da perspectiva de vida tornam a Medicina Esportiva cada vez mais importante no mundo. No ambiente competitivo, os limites humanos vivem em contínuo desafio. Desde os primórdios, as competições são eventos para a exibição pública, daí ser natural a curiosidade sobre a vida, as condições e potencialidades físicas dos atletas. Por conseqüência, o desafio da Medicina Esportiva é proporcionar a prática de atividade física intensa e diuturna, sem riscos para a saúde e que possam levar a grandes conquistas. 

A Medicina Esportiva foi desenvolvida mais intensamente a partir da década de 40 do século passado na Itália e na Alemanha. Na Alemanha era voltada à área da fisiologia na avaliação da intensidade do treinamento competitivo. Na Itália, os aspectos cardiológicos eram desenvolvidos com maior preferência.  No Brasil, a traumatologia esportiva ocupou o maior espaço de seu desenvolvimento.

A Medicina Esportiva divide-se em três grandes áreas: educativa, preventiva e terapêutica. A educativa procura informar profissionais de saúde, do esporte e a população em geral. A preventiva avalia o ser humano em diversos aspectos para saber se está apto à prática da atividade física, recreativa ou competitiva. Na recreativa, particulariza a orientação em relação ao grupo etário analisado para distribuir os esforços em atividades compatíveis com o organismo. No setor competitivo, procura adequar os esforços intensos em treinamento e competição. 

A escolha correta da modalidade, abordando aspectos cardiocirculatórios, neurológicos, musculares, psíquicos, imunológicos e biométricos entre outros, proporciona ao atleta a possibilidade de ser um campeão. Os exames de seleção e de controle determinam sua evolução e podem detectar qualquer distúrbio. A cineantropometria, que estuda os movimentos de cada modalidade, proporciona grandes avanços técnicos e evita o aparecimento de lesões.

A terapêutica também tem aspectos bem definidos nos esportes competitivos.  Por exemplo, nos distúrbios de vias aéreas respiratórias nos esportes aquáticos, na traumatologia esportiva e, finalmente, nos momentos de super treinamento quando o limite imunológico é inadvertidamente ultrapassado.

No setor recreativo, os distúrbios são cada vez mais comuns devido às práticas desproporcionais e lesivas administradas em determinadas academias. Não passa um dia sem que pacientes nos procurem com queixas de fortes dores nos joelhos decorrentes da utilização de “máquinas” como a mesa extensora, que vai lenta e gradativamente corroendo a cartilagem rotuliana e femoral correspondente.

Mas, todo o potencial e recursos da Medicina Esportiva estão sendo utilizados? Infelizmente não. Em relação à população em geral, é baixa a percentagem dos que praticam atividades físicas. Em relação aos atletas, poucos têm a oportunidade ser selecionado no esporte correto, iniciando a prática competitiva na idade e na intensidade certas. Também são poucos os que fazem exames iniciais e de controle obrigatórios, que permitem detectar e corrigir desvios – independente da necessidade de afastamento periódico de competições programadas.

Para cada esporte existe a idade correta de início. Na média, o período de prática competitiva de alto nível dificilmente ultrapassa a duas décadas. Um jovem que inicia um esporte aos 10 anos, dificilmente chegará aos 30 anos competindo. Seu organismo terá sido desgastado, principalmente no aparelho locomotor, no qual as articulações são degeneradas e os músculos perdem elasticidade, de forma que não acompanham mais a velocidade das ordens para que se contraiam corretamente. Seria mais conveniente iniciar a competição ao redor dos 15 anos, podendo chegar aos 30 em melhores condições.

Com essas considerações, fica difícil entender porque o jogador Ronaldo teve de sofrer mais de quatro intervenções cirúrgicas para continuar competindo. Por que Marcelo Negrão, artífice maior da medalha de ouro do voleibol na Olimpíada de Barcelona, teve tantas lesões em sua carreira, assim como tantos outros atletas? Para finalizar, o ocorrido com o Serginho, atleta do São Caetano que morreu durante partida contra o São Paulo Futebol Clube em pleno Morumbi, provocando profunda consternação no meio esportivo. Por que ele morreu?  Em avaliações simples, é possível detectar um distúrbio cardiocirculatório. Exames específicos buscam a gravidade do problema e, finalmente, uma avaliação final pode estabelecer um diagnóstico que define qual a intensidade permitida para a continuidade ou abandono imediato do esporte praticado.

O clube São Caetano tem um departamento médico suficientemente apto para detectar desvios da normalidade. Desvios maiores são encaminhados aos especialistas. O jogador teve sua avaliação final e conclusiva executada no maior centro cardiológico do país, o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP. O diagnóstico preciso foi dado: “miocardiopatia hipertrófica”, a qual determinaria o afastamento do atleta do esporte competitivo. Mas, o jogador, de origem humilde e que conseguiu no futebol recursos para a manutenção de toda a sua extensa família, continuou competindo. E, inevitavelmente, morreu. Não me cabe julgar a competência de colegas médicos ou a responsabilidade de dirigentes e técnicos. Como formador e profissional da Medicina Esportiva, observo a predominância da integridade entre os médicos que atuam na área – a maioria de capacidade mais do que reconhecida.  
 
Há considerações importantes a fazer se reduzirmos a observação unicamente ao atleta diante de seu diagnóstico. Será que o diagnóstico fatal foi suficientemente entendido por ele? E, se tivesse tido a ciência total do fato, teria abandonado o futebol?  Em uma pesquisa feita com atletas que participaram das últimas olimpíadas, foi-lhes feita a seguinte pergunta: “se para ganhar uma medalha de ouro, tivesse que ser submetido a um treinamento intenso com a utilização de métodos ilícitos, até com drogas exógenas que o levariam a contrair graves enfermidades e, conseqüentemente, à  morte alguns anos depois, você aceitaria?”. Mais de 70% dos entrevistados responderam que sim. A medalha de ouro era o prêmio maior, impossível de ser rejeitado sob qualquer circunstância.

Sedentarismo, o mal maior

O modismo da prática de atividades físicas pode trazer danos à saúde quando feitas de forma inadequada e sem acompanhamento médico. Mas o seu oposto é bem mais preocupante. O sedentarismo humano é cômodo e progressivo. Começou na  revolução industrial, que reduziu significativamente as atividades braçais. Agravou-se na revolução tecnológica que introduziu controles remotos, porteiros eletrônicos e toda uma parafernália de atrativos que mantêm o ser humano sentado comodamente, enquanto interage com o mundo, fecha contratos e paga contas com um simples apertar de teclas. Caso disponha de recursos e combine com seu estilo de vida, não precisa levantar nem mesmo para fechar as janelas e apagar as luzes de sua casa. Locomover-se a pé por três ou quatro quarteirões é uma prática em total desuso nos grandes centros.   

Segundo pesquisa do idealizador e coordenador do Projeto Agita SP, o médico Victor Matsudo, o sedentarismo atinge aproximadamente 70% da população mundial e mata mais que a obesidade, o tabagismo e o colesterol alto. Além do sedentarismo ocorrer nos países ricos, 70% dos gastos com saúde nos países de terceiro mundo são usados para cobrir as despesas com doenças geradas por esse  estilo de vida.

O Projeto Agita SP é um dos sérios combatentes do sedentarismo no país e agora ganhou reconhecimento internacional. Criado em 1996 pela Secretária do Estado de Saúde de São Paulo, o Projeto desenvolve várias ações em parcerias com escolas e comunidades organizadas com o objetivo de aumentar o nível de atividade física da população e o conhecimento sobre os benefícios da prática regular e adequada de esportes.

O projeto foi reconhecido como Programa Modelo pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Desde 2005, seu desenvolvimento está sendo apoiado pela pela OMS em outros países da América Latina. No último dia 3 de abril, uma atividade conjunta da OMS e Agita SP reuniu cerca de 7 mil pessoas entre a Praça Laudelina Lunardeli (na região do MASP) e a Assembléia Legislativa, no Parque do Ibirapuera em São Paulo.

Medicina Esportiva no Brasil

A primeira publicação em Medicina Esportiva no país foi o livro de Fisiologia Esportiva em  1978 do professor Mário de Carvalho Pini, pai da Medicina Esportiva brasileira, responsável direto pelo controle da saúde dos atletas em jogos panamericanos e olimpíadas por mais de três décadas.

Os primeiros departamentos especializados no esporte amador foram os do Esporte Clube Pinheiros, em 1967, e do Esporte Clube Banespa, em 1968. Depois, outros clubes foram desenvolvendo o atendimento a seus atletas, infelizmente, nem sempre sem interrupções ou grandes avanços. Um exemplo é o Departamento de Medicina Esportiva do São Paulo Futebol Clube que foi um dos baluartes, juntamente com o técnico Telê e demais membros da comissão técnica, pelas grandes conquistas de títulos paulistas, brasileiros, bi da Libertadores da América e bi campeão do Mundo na década de 90.

É também um exemplo o Grupo de Medicina Esportiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP), criado na década de 80. Foi a primeira vez que um Hospital Universitário e uma Faculdade de Medicina se preocuparam com a Medicina Esportiva. Esse grupo, em convênio com o Comitê Olímpico Brasileiro, foi incumbido de avaliar os atletas que participariam da Olimpíada de Barcelona em 1992. Até então, apenas as Seleções Brasileiras Infantil, Juvenil e Adulto haviam se utilizado da estrutura, o que foi importante nos campeonatos mundiais conquistados na época. A equipe masculina de voleibol comandada pelo técnico José Roberto Guimarães, após completa e minuciosa avaliação durante uma semana no marco “0” de seu treinamento olímpico, obtiveram subsídios importantes sendo por nós acompanhada até a conquista da Medalha de Ouro Olímpica,  a primeira medalha em esporte coletivo conseguida pelo Brasil –  feito repetido nas Olimpíadas de Atenas.

Atualmente a FMUSP é responsável, juntamente com a Escola de Educação Física e Esportes e a Faculdade de Farmácia e Bioquímica, também da USP, pelo Curso de Especialização em Medicina do Esporte. O curso expandiu-se a outras capitais do Brasil, como Salvador, Recife, Maceió e Goiânia. Também desenvolvem cursos  na área a  Universidade Federal do de São Paulo, além de faculdades de Porto Alegre e Rio de Janeiro. A FMUSP também já tem a Medicina Esportiva no seu currículo de pós-graduação.
(JGC)

* João Gilberto Carazzato é Professor Doutor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, chefe do grupo de Medicina Esportiva do HC-FMUSP e autor do livro “Medicina do Esporte”, entre outros.


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