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CAPA

PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 4)
Heiner Flassbeck, economista e diretor da Unctad


SINTONIA (pág. 9)
José Ricardo de C. M. Ayres*


CRÔNICA (pág. 12)
Antonio Prata*


CONJUNTURA (pág. 14)
Os problemas da população de rua


DEBATE (pág. 18)
Haino Burmester e Laura Schiesari


MÉDICOS NO MUNDO (pág. 24)
O atendimento da população em regiões de alto risco


SUSTENTABILIDADE (pág. 28)
Alerta para o consumo de alimentos contaminados


GIRAMUNDO (págs. 30 e 31)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e atualidade


PONTO COM (págs. 32/33)
Acompanhe as novidades que agitam o mundo digital


EM FOCO (pág. 34)
Sherlock Holmes, um doutor detetive


LIVRO DE CABECEIRA (pág. 37)
Sugestão de leitura de Krikor Boyaciyan*


HOBBY (pág. 38)
Esporte já não é exclusivo do universo masculino


CULTURA (pág. 40)
Arte urbana conquista espaço internacional


GOURMET (pág. 45)
Arroz indiano


POESIA( pág. 48)
Ana Cristina César


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Edição 57 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2011

ENTREVISTA (pág. 4)

Heiner Flassbeck, economista e diretor da Unctad

“A Saúde não escapa da crise global”

Para o diretor da Unctad e ex-vice-ministro das Finanças da Alemanha, o economista , “se os governos quiserem começar a superar a crise, devem aumentar os salários na medida em que aumentam sua produtividade”. Ele defende, também, o fim da especulação financeira.

A crise global da economia deve atingir o âmbito sanitário, simplesmente porque os governos estão cortando os gastos de todos os lados. Tal simplificação, no caso da Saúde, “não é razoável, por se tratar de um setor público fundamental, que poderia expandir e criar empregos”, considera Heiner Flassbeck, diretor da Divisão de Globalização e Estratégias de Desenvolvimento da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). Ele falou com exclusividade à revista Ser Médico, após seminário promovido pelo Centro Internacional Celso Furtado, do qual participou, em agosto, na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. O também professor da Universidade de Hamburgo e ex-vice-ministro das Finanças da Alemanha reiterou sua proposta que bate de frente com as políticas ortodoxas de restringir os gastos públicos, adotadas por muitos governos para tentar estancar a crise: “se os países quiserem começar a superá-la, devem aumentar os salários na medida em que aumentam sua produtividade. Aprendam com a China”, aconselhou. Flassbeck defendeu também a regulação do sistema financeiro, ao qual fez duras críticas: “há um verdadeiro jogo de cassino promovido pelos especuladores, envolvendo o uso de moedas de economias razoavelmente equilibradas de alguns países emergentes, como o Brasil”, que ele considera uma nação forte, mas alvo de muitos interesses. “Esses jogadores são os únicos que lucram, e muito, com as ‘apostas’”, reforçou, em entrevista realizada pelas jornalistas Concília Ortona* e Fátima Barbosa**.

Ser Médico: Qual é o significado da atual crise global?
Heiner Flassbeck:
Temos novos tipos de crises no mundo – e a econômica é apenas uma delas. Acontece pelo fato de a economia estar estagnada, porque os salários não aumentam de acordo com a produtividade, interrompendo o desenvolvimento dos níveis de mercado. Todos os países querem exportar, mas quem pode comprar? Na Europa, nos Estados Unidos e no Japão há uma combinação suicida que une desemprego, estagnação salarial e cortes de gastos públicos. A partir dela, não se pode esperar que o consumo e, consequentemente, o crescimento aumentem. Em resumo, o perigo é que uma nova crise seja o sinal de que a economia caminha para uma estagnação de longo, longo prazo.

SM: Por que, em sua opinião, algumas pessoas que participaram do seminário afirmaram que sua posição a favor de uma forte regulação dos mercados financeiros, como uma das formas de superar a crise, não é “realista”, mas “um sonho”?
Flassbeck:
Meu conceito global pode ser algo difícil de entender, porque há muita gente que acredita firmemente em modelos antigos, por exemplo o de que preços e salários flexíveis resolvem tudo. Só que o mundo mudou dramaticamente – e essas pessoas não percebem que novas abordagens tornaram-se necessárias. Posso citar o exemplo da política monetária norte-americana: creio que, pela primeira vez na sua história, os Estados Unidos pararam de acreditar no mercado como o único a definir as taxas de juros – e isso mostra o quanto estão desesperados. Foi esse mercado o responsável pela criação das chamadas “bolhas” financeiras; e como todos sabem, as bolhas explodem.

SM: O senhor pode explicar por que compara o mercado especulativo a jogos de cassino?
Flassbeck:
Porque é isso que eles vivem fazendo. O mercado, os investidores, usam as commodities para obter lucros, bem como as moedas que têm certa estabilidade, como se estivessem apostando em cassinos. Uma das formas é esta: um investidor ou um fundo pega dinheiro emprestado de países que têm taxas de juros baixas e as vende em outro, como o Brasil, em que as taxas são maiores, ganhando muito dinheiro. Isso é bom para ele, lógico, mas não para o país em questão. É por isso que estou propondo que parem, imediatamente, toda especulação com moedas. O Brasil também está sendo usado como uma das vítimas desses jogos virtuais. Mas os especuladores nem se importam, continuam jogando, já que ninguém aparece para pará-los.

SM: Se todo mundo sabe, por que é tão difícil para os governos controlarem o sistema financeiro?
Flassbeck:
Há muito interesse por parte de grupos de investidores, que pressionam para que não surja nenhum tipo de regulação séria por parte dos governos. Os especuladores não querem que o governo interfira nisso, pois ganham muito, muito dinheiro com o seu negócio! Obviamente, os políticos não são fortes o suficiente para se oporem a esses lobbies feitos por grupos que financiam suas campanhas eleitorais e outras coisas. Isso é fato em todas as democracias: os políticos não são fortes o suficiente para se oporem ao sistema financeiro. Se tudo fosse perfeito, os governos precisariam desempenhar um papel enérgico no controle da economia, não permitindo que a especulação se ocupe dessa função. Não só por meio da regulamentação, mas também da intervenção nos mercados.


Manifestação em Madri: aprofundamento da crise na Europa levou centenas de milhares de pessoas às ruas, principalmente na Itália, Grécia e Espanha

SM: O senhor defende que os governos não deveriam ajudar os bancos o tempo todo...
Flassbeck:
Se os governos continuarem a ajudar os bancos, estes continuarão especulando, como cassinos, e fazendo aquilo que sempre fizeram: prejudicar as pessoas envolvidas em seus jogos. É incrível que nós não façamos nada contra isso: os governos serão sempre solicitados a salvar bancos, e nós, alegres, parecemos ficar dizendo: “vão em frente com as suas apostas em cassinos”, “vão em frente, paguem alguns jogadores irresponsáveis do mercado financeiro e vamos piorar nossas dívidas”. É difícil de entender, mas trata-se de um fato.

SM: A crise econômica mundial aponta os limites do capitalismo – ou o capitalismo é capaz de se reinventar?
Flassbeck:
Neste momento, é muito difícil reinventar o capitalismo. Pode até ser que seja possível, mas o capitalismo carrega em si mesmo certos limites, para os quais você olha e conclui: “não consigo ultrapassar isso”. Os salários médios das pessoas, que são o componente mais importante para a demanda privada e a manutenção do capitalismo, não estão subindo, limitando, como consequência, o consumo. Há também tanta gente desempregada que, em algum ponto, as pessoas dirão: “não, esse não é mais o sistema que eu gostaria de ter”. Se a questão referir-se apenas à política capitalista em si, creio que há o temor de que, depois da fase de globalização, comece uma fase de nacionalização ou dos conceitos nacionalistas que defendem o “cada país por si mesmo”. Bem, isso já vem ocorrendo desde o último século.

SM: O senhor acredita que o neoliberalismo seja o culpado pela crise?
Flassbeck:
O neoliberalismo é um sistema incompreendido. Existe aí um paradoxo: aquelas pessoas que promovem e lidam com o sistema de mercado, em geral, não o compreendem direito. Provavelmente, a China o entende melhor que seus defensores, pois tem aumentado os salários de acordo com o aumento da produtividade. Este é o paradoxo: chegamos a um ponto em que o sistema de mercado não pode ir em frente. Nos últimos 30 anos, a agenda neo¬liberal nos fez acreditar que tudo deveria ser flexibilizado. Só que não acontece exatamente o que se espera já que, pela teoria neoliberal, com a redução de salários, haveria aumento do número de empregos – e isso não aconteceu, por exemplo, na Alemanha.

SM: O que devemos esperar para o setor da Saúde, se a crise piorar?
Flassbeck:
Na maioria dos países, a Saúde é vinculada ao sistema público e é por isso que, por conta da crise global, os governos estão colocando limites à sua expansão, tanto quanto aos outros setores. Os governos estão cortando os gastos de todos os lados, incluindo os correspondentes a esse importante setor, que poderia estar crescendo, expandindo-se e criando empregos. Por isso, a crise atinge mais o setor público de Saúde que o privado.

SM: É possível gerenciar a crise no sistema de saúde apenas aumentando os salários dos trabalhadores em geral?
Flassbeck:
O ponto é que, se você tiver melhores salários, o aumento das contribuições direcionadas à Saúde será maior também. Melhores contribuições previnem que ocorra uma pressão adicional capaz de impor cortes a esse setor. Por outro lado, se a contribuição diminuir porque as pessoas estão desempregadas, não recebem salários ou não têm aumentos, há cortes por parte do governo, que não consegue manter o sistema de saúde.

SM: Em sua opinião, como o Brasil pode se sair diante da atual crise?
Flassbeck:
Neste momento, seu país é extremamente importante para a mudança de todo esse panorama, pois é alvo de muitos interesses. Em certo período, porém, o Brasil falhou no controle da especulação internacional, a exemplo de outros países. Além disso, deveria mudar sua política monetária, pensar em incentivar o aumento de salário, fazendo com que ele cresça lado a lado com a produtividade, e estabelecer uma meta de inflação.


(*) Concília Ortona é jornalista do Centro de Bioética do Cremesp.
(**) Fátima Barbosa é editora-chefe da Ser Médico.



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